Nem toda a gente está ciente que tudo o que é dito ao Google Home ou ao Google Assistant é gravado e armazenado. Contudo, isso vem claramente expresso nos termos e condições da empresa. O que a Google não diz é que esses áudios estão a ser ouvidos pelos seus trabalhadores – independentemente das informações que neles constem.
Uma investigação do site de notícias belga VRT NWS, revelou, no final da semana, passada, cerca de mil ficheiros áudio em holandês e flamengo, sendo que 153 tinham sigo gravados acidentalmente. Entre as conversas arquivadas há registos de episódios de violência doméstica, de relações sexuais, informações médicas, moradas, entre outras.
A Google sempre afirmou que não ouvia as conversas privadas dos utilizadores. Na Holanda, a empresa fez inclusivamente um ‘explicador’ no YouTube para acabar com quaisquer rumores sobre possíveis escutas. Neste vídeo, os funcionários do Google respondem à pergunta: “O Google ouve?”. Ao que respondem: “Não, não estão a ser ouvidos”. Apesar de ser verdade que as conversas não são ouvidas diretamente, milhares de pessoas em todo o mundo têm acesso aos excertos de áudio.
O sistema informático do Google depende de algoritmos de autoaprendizagem, ou seja, a tecnologia de reconhecimento de voz dos seus dispositivos aprende a entender as diferenças e as características de cada língua, através dos áudios armazenados. Para fazer o reconhecimento de voz, os dispositivos geram, automaticamente, um guião das gravações. Em seguida, os funcionários têm de verificar, duas vezes, e descrever o documento da forma mais precisa possível, anotando cada vez que o utilizador tosse e cada pausa no discurso. Estas descrições estão constantemente a aperfeiçoar os motores de busca Google, o que resulta em melhores reações aos comandos.
Bavo Van den Heuvel, especialista em segurança cibernética, considerou estas revelações “chocantes”, e vários ativistas descreveram a situação como um “desastre na proteção de dados, à espera de acontecer”.
O método utilizado pelo Google para proteger a identidade dos utilizadores a que corresponde cada áudio é substituir o nome por um número de série. No entanto, muitas vezes, nas conversas gravadas constam nomes, moradas e outros dados. Além disso, segundo a VRT NWS, quando os funcionários não sabem escrever alguma coisa, procuram cada palavra, endereço, nome pessoal ou nome da empresa no Google ou no Facebook.
O Google Home começa a gravar assim que ouve pronunciar uma palavra semelhante a “Ok Google”. O Google Assistant, nos smartphones, também é facilmente ativado – basta pressiona o botão errado. Isto significa que muitas conversas são gravadas acidentalmente: relações sexuais, episódios de violência doméstica, conversas e telefonemas privados ou profissionais.
Num comunicado, a empresa americana admite que “especialistas em linguagem analisam cerca de 0,2% de todos os excertos de áudio”, salvaguardando que “esses excertos não estão associados a contas de utilizadores como parte do processo de análise”. Afirmam ainda que a fonte do site belga “violou as políticas de segurança de dados ao divulgar informações confidenciais” e que está a ser realizada “uma revisão completa” das suas precauções nesse âmbito, de modo a “evitar que uma má conduta como esta aconteça novamente”.
Também uma notícia do site Bloomberg, no início deste ano, revelou que a Amazon tem funcionários a examinar os registos áudios captados pela Alexa, algo que a empresa confirmou, mais tarde.