De acordo com um relatório da Agência Ambiental Norueguesa, a cidade de Longyearbyen, na Noruega, é o lugar do planeta a aquecer mais rápido. Nesta cidade do arquipélago de Svalbard, as temperaturas aumentaram 4ºC desde 1971. No inverno, quando as mudanças são mais acentuadas, a temperatura subiu 7ºC. São aumentos que o resto do mundo não deverá registar, pelo menos, até ao século XXII.
O arquipélago de Svalbard, ligeiramente mais pequeno do que a Irlanda, está posicionado, geograficamente, numa zona de intempéries. As pressões de temperatura vêm do Norte (a atmosfera do Ártico, que aquece o dobro da média global) e do oceano próximo (que traz correntes cada vez mais quentes do Golfo do México). À medida que a sua superfície de neve derrete, a terra reflete menos e absorve mais calor do sol. E com o derretimento do gelo nas zonas costeiras, o clima continental calmo é substituído por tempestades costeiras.
Aqui, a exploração do petróleo começou em 1906 e, até há 10 anos, o tema das alterações climáticas era tabu. A indústria mineira ainda hoje controla a cidade: Detém a maioria das habitações, os bares e restaurantes são decorados com fotografias e retratos de mineiros, a estátua na rua principal da cidade é um grupo de mineiros. O carvão mantém as luzes acesas e as casas quentes. É por isso, juntamente com a necessidade frequente de voar, que a pegada ambiental dos residentes de Svalbard está entre as maiores da Europa.
Agora, é impossível atravessar o fiorde com uma mota de neve, porque este já não congela no inverno, algo inimaginável há algumas décadas. Nesta região, anteriormente conhecida como “deserto do Ártico”, já chove. Os glaciares que cobrem 60% do arquipélago estão a derreter e a provocar deslizamento de terras, o que danifica os edifícios.
Quase 150 casas estão a ser movimentadas, um procedimento que deverá custar 350 milhões de coroas norueguesas (36 milhões de euros). Além disso, estão a ser escavados novos canais de drenagem e as linhas para fornecimento de energia estão a ser fortificadas, mas mesmo assim, as autoridades não estão certas de que consigam acompanhar o ritmo das alterações climáticas.
Os desafios psicológicos são menos óbvios, mas indiscutivelmente maiores. Há poucos lugares no mundo onde as pessoas são tão ricas ou saudáveis, no entanto, muitos locais estão a repensar o seu modo de vida e as suas ambições pessoais.
Audun Salte é um estudante da friluftsliv, a filosofia norueguesa defensora da vida ao ar-livre. Costuma levar turistas a passear de trenó pela tundra, às vezes durante dias a fio. As alterações climáticas estão a diminuir cada vez mais a época de esqui, o que o leva a ter cada vez menos tempo para esta atividade. Como aspirante da friluftsliv, tenta aceitar as alterações climáticas da melhor e mais natural forma possível. Para si, o fim da humanidade não é um problema desde que os seus 50 caes de trenó fiquem bem. Um dos seus maiores sonhos era o de ir a esquiar até ao Polo Norte, desde Svalbard. Mas a folha de gelo polar já não está sólida o suficiente para isso. “A última vez que isso foi possível foi, talvez, há dois anos atras”, lembra-se. “Agora já não se pode ir em segurança”.
Depois de uma avalanche ficar a apenas 10 metros de atingir a sua casa, Hilde Fålun Strøm decidiu fazer uma pausa de nove meses no seu trabalho administrativo, e ir viver para uma cabana, na natureza, onde pretende realizar pesquisa sobre as perturbações climáticas, incluindo a monitorização meteorológica e amostra de fitoplâncton – os produtores de oxigénio no oceano – e partilhar os resultados na internet.
Lena Berntsen, outra local, conta que aprendeu “muito sobre a neve – a boa neve e a má neve”. “Se há chuva seguida de gelo, seguido de neve, então sabe-se que se tem que fazer as malas”. No verão passado, Lena foi obrigada a abandonar permanentemente o seu antigo apartamento porque este estava localizado numa “zona vermelha” de alto risco. Agora, está um pouco mais segura, na “zona laranja”, onde os edifícios já tiveram de ser evacuados por três vezes, desde que se mudou para cá.
Arild Olsen, ex-mineiro e líder do conselho, explicou que “é difícil assegurar a segurança das pessoas”, porque “estão a acontecer coisas que não deviam”. “Temos que adaptar uma cidade inteira. É difícil”. Olsen, quer transformar Svalbard num exemplo para o resto do mundo, pelo modo como se preparam e como lidam com a rutura climática. Para isso, decidiu concentra-se nos pontos positivos: ter a oportunidade de melhorar o plano habitacional, incrementar a eficiência energética e tornar Longyearbyen uma cidade neutra nas emissões de carbono.
No inverno, a cidade fica longos períodos de tempo sem sol, e a energia eólica não é suficiente para aquecer a cidade inteira. Então, Olsen chegou a um acordo com o governo norueguês para que se construa uma central hidroelétrica, que irá gerar eletricidade “limpa”. “Podemos preparar o caminho para o mundo, e fornecer o conhecimento proveniente da nossa experiência, ao resto da Noruega”, afirma.
A indústria de exploração mineira também está a abrandar, hoje existem apenas 45 trabalhadores, que produzem menos de 150.000 toneladas por ano – uma redução de mais de 90% em relação a outras épocas.
Kim Holmén, o diretor internacional do Instituto Polar Norueguês, declara-se “otimista, porque não há escolha“. “Não acaba até que acabe. Há sempre algo para salvar“.