Ter mais filhos aumenta a felicidade em igual proporção? Ou será ao contrário?
Algumas investigações já tentaram idealizar um número ideal de filhos que maximiza a felicidade dos pais. Um estudo de 2006 chegou à conclusão que o melhor é parar pelo primeiro, visto que um segundo ou terceiro filho não contribuem para o aumento da felicidade. Outro, mais recente, disse-nos que afinal a meta europeia estava nos dois. Mais do que isso e a felicidade dos pais poderia ficar comprometida.
A maioria dos europeus adultos considera que a família ideal tem dois filhos, nem mais nem menos. Os EUA já não estão tão certos, com cerca de metade dos adultos a preferir dois filhos e um terço a preferir três, indica a estatística. Em Portugal, a maioria dos casais tem entre um e dois filhos, mas gostaria de ter pelo menos mais um.
Mas serão estas preferências baseadas totalmente na felicidade dos pais? Ashley Gibby, estudante de sociologia e demografia da Penn State University, nos EUA, diz que não. Estes resultados podem estar a ser manipulados por aquilo a que se chama o “número normal” de filhos nas civilizações ocidentais. “Ter o número ‘normal’ de filhos é socialmente e institucionalmente mais apoiado”, conta à revista The Atlantic. “Por isso, talvez dois seja o ideal num sítio em que a norma é ter dois. No entanto, se a norma mudasse, penso que a resposta à pergunta mudaria também”, diz.
Em finais dos anos 50, o número ideal de filhos nos EUA chegava aos quatro ou cinco por casal. Steven Mintz, historiador da Universidade do Texas, explica que esse número veio a descer “à medida que o custo de criar uma criança aumentou e mais mulheres começaram a entrar no mercado de trabalho e a sentir-se frustradas por serem reduzidas a máquinas de partos”, explica.
Ao mesmo tempo, a natalidade portuguesa também tem registado uma diminuição acentuada nos últimos anos. Mónica Ferro, diretora da representação do Fundo de População das Nações Unidas, adiantou à Lusa que “Portugal tem as mesmas barreiras que têm os outros países altamente desenvolvidos e que estão na categoria de baixas taxas de fertilidade, que são as dificuldades económicas, as barreiras institucionais e as barreiras sociais”.
Mas se criar vários filhos é tão complicado nos nossos dias, porquê não ficar por apenas um? Porque dessa forma perde-se a oportunidade de ter um rapaz e uma rapariga, a combinação que muitos pais querem. No entanto, um investigador percebeu que ter dois filhos do mesmo sexo, quando se quer ter um de cada, não afeta significativamente a felicidade das mães.
No entanto, muitas pessoas querem mais ou menos do que dois filhos. Muitos especialistas consideram que o número ideal de filhos depende do que cada pessoa ou casal considera “ideal” para si. “Quando um casal sente que tem mais interesse em ter filhos; mais energia para crianças; talvez mais apoio, como os avós por perto; e um salário decente, ter uma família grande pode ser a melhor opção para eles”, opina Brad Wilcox, diretor do National Marriage Project da Universidade de Virgínia, nos EUA. Quando se dá o contrário e a família não tem os apoios financeiros, sociais ou emocionais necessários, talvez o melhor seja manter a família pequenina.
E não ter filhos de todo? “Se quiser gozar uma vida centrada em si enquanto adulto, praticar atividades de lazer dispendiosas, aproveitar uma relação íntima com o seu parceiro, e ambos os membros do casal querem dedicar o seu tempo à carreira, zero filhos seria a solução”, teoriza Kei Nomaguchi, sociologista da Universidade de Bowling Green State, nos EUA.
Posto isto, a relação entre o número de filhos e a felicidade parece não ter uma resposta fácil. Está provado que ter um filho pode tornar um casal mais feliz, desde que haja condições financeiras para tal. E nesse caso o número pode ser maior: quatro, diz à The Atlantic o economista Bryan Caplan, autor do livro Selfish reasons to have more kids (Razões egoístas para se ter mais filhos). Isto desde que não se preocupem demasiado em inundar os filhos com atividades extracurriculares, numa busca pelo sucesso futuro das crianças. Caplan, a propósito, tem quatro filhos.
O número ótimo de filhos depende então da idade, da época da vida e das condições da família. Tudo coisas incertas que com o tempo se vão alterando. Tal como a própria noção de felicidade também varia: de pessoa para pessoa, de momento para momento, de contexto para contexto. Cabe a cada um de nós decidir, a tempo certo, da forma certa, tendo em conta a nossa felicidade e, mais importante ainda, a felicidade de quem porventura virá ao mundo.