Muito se tem questionado como é possível existirem comunidades defensoras da teoria de que a Terra é plana, uma conceção há muito destruída pela ciência. Um novo estudo da Universidade de Califórnia – Berkeley, nos Estados Unidos da América, pode ajudar a explicar o bizarro fenómeno.
Segundo esta investigação, as crenças das pessoas são reforçadas ou enfraquecidas de acordo com as reações positivas ou negativas que recebem – e não tanto pela lógica ou dados científicos.
Estando inseridas num grupo que reforça a sua convicção, as pessoas veem as suas opiniões legitimadas e desvalorizam (ou nem sequer verificam) os factos que as contradizem.
Os resultados foram publicados no jornal científico Open Mind com o objetivo de contribuir para o debate em torno da forma como as pessoas lidam com informação que desafia a sua mundividência.
Os cientistas descobriram que alguns hábitos de aprendizagem podem limitar o horizonte intelectual dos seres humanos. “Se alguém pensar que sabe muito sobre um assunto – apesar de não saber – tem uma menor probabilidade de ter curiosidade para explorar o tema e nem sequer se apercebe de quão pouco sabe”, afirmou um dos autores do estudo, Louis Marti, doutorando em Psicologia na Universidade de Berkeley.
Esta dinâmica cognitiva também se reflete no comportamento dos utilizadores de redes sociais ou nos espectadores de meios de comunicação com alinhamento político, por exemplo.
A investigação analisou especificamente o que influencia as pessoas ao longo do processo de aprendizagem. “Se uma teoria louca der origem a um par de previsões corretas, pode ficar-se preso a essa crença em vez de se procurar mais informação”, explicou a investigadora Celeste Kidd, uma das autoras do trabalho.
O estudo revelou que a confiança dos participantes era baseada nos resultados da sua performance, em vez de nos resultados cumulativos de aprendizagem.
“Se o objetivo é ficar mais próximo da verdade, a estratégia de usar apenas o retorno mais recente, em vez de todos os dados acumulados, não é uma boa tática”, alertou Louis Marti.
À procura do “daxxy”
Aos participantes do estudo – 500 adultos – foi-lhes pedido que observassem diferentes formas coloridas no ecrã dos seus computadores e que identificassem as figuras com formato “daxxy” – uma terminologia inventada pelos cientistas só para o estudo, apenas para garantirem que os participantes não sabiam do que se estava a falar, sendo assim obrigados a identificar as figuras à sorte.
À medida que faziam as suas escolhas eram informados sobre se tinham acertado ou errado. Sempre que lhes perguntavam se estavam seguros das suas opções, verificou-se que a sua autoconfiança era maior quando tinham acertado as quatro ou cinco respostas anteriores, ou seja, a sua opinião variava consoante lhes diziam que tinham acertado ou errado – e não de acordo com a informação reunida ao longo do processo que facilitava a identificação de uma figura “daxxy”.
“O mais interessante foi que podiam errar dezanove vezes seguidas, mas, a seguir, se acertassem cinco vezes, sentiam-se muito confiantes”, constatou o investigador Louis Marti. “Não é que não estivessem a prestar atenção, estavam a aprender o que era um “daxxy”, mas não estavam a usar tudo o que aprendiam para decidirem corretamente”, acrescentou.
Idealmente, as decisões dos participantes deveriam ser baseadas em igual medida na observação ao longo do tempo e no feedback recebido. Em vez de estarem totalmente focadas nas reações recebidas, sob pena de se distanciarem cada vez mais dos factos.