A vida na Terra mudou de forma extraordinária desde o aparecimento dos primeiros seres humanos. No entanto, o nosso cérebro não se alterou. As relações sociais, a relação com a comida e a resposta ao medo ainda têm por base a vida na selva, quando os nossos antepassados sofriam a ameaça constante de predadores temíveis e tinham de percorrer longas distâncias à procura de alimento e água.
Mantemos, portanto, os circuitos cerebrais que garantiram a nossa sobrevivência. Um deles, essencial, é o que permite responder a uma ameaça. “Tal como no caso de qualquer outro animal na natureza, a nossa reação a uma ameaça é sempre uma das três seguintes: luta, fuga ou paralisação”, explica a investigadora da Fundação Champalimaud, Marta Moita, que coordena o grupo de neurociências comportamentais.
Num estudo publicado hoje na revista científica Nature Communications, um grupo de cientistas tentou perceber como decorria o processo de tomada de decisão nos animais. No caso, o trabalho foi feito em mosca-do-vinagre, que na verdade acabam por ser um bom modelo, até mesmo para o estudo do comportamento humano.
Na experiência, os cientistas expuseram as moscas, colocadas num prato coberto, a um círculo escuro, em expansão, o que funciona como uma ameça. Resultado: as moscas paralisavam. Ficavam imóveis, minutos a fio. Outras fugiam. “Tal como os humanos, as moscas escolhem entre estratégias alternativas”, sublinha Maria Luísa Vasconcelos, que liderou o estudo.
Os cientistas repetiram a experiência, desta vez usando um equipamento de visão artificial, que analisava em pormenor o comportamento de cada um dos insetos. Assim descobriram que a opção tomada pela mosca dependia da sua velocidade no momento em que eram expostas ao perigo. Se a mosca estivesse a andar devagar, paralisava, se estivesse a andar depressa, fugia.
A partir daqui, foi possível identificar os neurónios específicos, que determinam a resposta. “Existem centenas de milhares de neurónios no cérebro da mosca e entre todos eles descobrimos que a paralisação era controlada por dois neurónios idênticos, um de cada lado do cérebro”, diz Maria Luísa Vasconcelos.
“Podemos agora estudar diretamente como o cérebro faz escolhas entre estratégias defensivas muito diferentes”, avança Marta Moita.