“Bem-vindos ao evento mais politicamente incorreto do ano”, anunciou ao microfone, às 22h da última quinta-feira, Jonny Gould, locutor e apresentador de televisão, ali feito anfitrião do leilão que é sempre o ponto alto do exclusivo jantar anual do Presidents Club.
Os convidados são sempre só homens – 360 neste caso, figuras das finanças, política, cultura e negócios britânicos e estrangeiros, vestidos a rigor, e o encontro, rodeado de secretismo, no Hotel Dorchester de Londres, tinha como objetivo angariar dinheiro para causas como o hospital pediátrico de Great Ormond Street. Entre os items a leilão estavam lotes tão variados como um almoço com o secretário de Estado britânico para os Negócios Estrangeiros, Boris Johnson, um chá das cinco com o governador do Banco de Inglaterra, Mark Carney, um Land Rover, uma festa para 100 pessoas ou o direito a dar o nome a uma personagem de um livro infantil.
Mas o facto de os convidados serem só homens não quer dizer que não tenham estado presentes mulheres. Estavam. Eram 130 e tinham sido contratadas para estarem presentes, com a instrução para usarem vestidos curtos e pretos, com roupa interior a condizer, e saltos altos. Na festa que se seguiu ao jantar, muitas destas acompanhantes (algumas estudantes), foram, segundo o Financial Times, assediadas sexualmente.
Duas delas, no entanto, eram repórteres do jornal e contam agora como vários homens puseram as mãos por baixo das suas saias e como viram mulheres serem apalpadas, sujeitas a comentários lascivos e convidadas para irem com os convidados para a quartos. Houve até, contam as jornalistas, quem expussesse os órgãos sexuais.
De acordo com a investigação, no entanto, as acompanhantes receberam pistas sobre o que podia acontecer. Nas entrevistas, na agência Artista, foram avisadas que os homens podiam tornar-se “inoportunos”. Uma das jovens foi aconselhada a mentir ao namorado sobre a natureza exclusivamente masculina do evento: “Diz-lhe só que é um jantar de caridade.”
Dois dias antes, chegaram por email instruções mais detalhadas: Os sapatos deviam ser pretos e sexy e a maquilhagem e o cabelo arranjados como se fossem para um “sítio sexy e elegante”. A roupa propriamente dita foi fornecida no próprio dia. Os critérios de escolha eram simples (serem altas, magras e bonitas) e as selecionadas receberam cerca de 170 euros mais 28 para o táxi de regresso a casa.
Chegada a altura de entrarem no salão do evento, as acompanhantes receberam ordens para formarem duas filas, as mais altas à frente, e caminharem em direção a um palco, onde se apresentaram antes se dirigirem às respetivas mesas. Durante o jantar, a sua “missão” eram simples: “manter os homens felizes”, escreve o FT.
Para o local a agência Artista enviou ainda uma equipa de homens de mulheres com a tarefa de assegurar que as acompanhantes estavam a interagir convenientemente com os convidados. No exterior da casa de banho feminina, mais um “espião” para controlar e chamar quem demorasse demasiado tempo.
Contactada pelo jornal, a agência garante que há um código de conduta e que não está a par de qualquer queixa de assédio sexual e que “com o calibre dos convidados, seria uma surpresa”.
Também o hotel diz ter uma política de “tolerância zero” para assédio a hóspedes ou funcionários e que se receber alguma denúncia “trabalhará com as autoridades” nesse sentido.
O prestigiado evento, que tem lugar em Londres há 33 anos, já angariou mais de 20 milhões de libras (quase 23 milhões de euros) para caridade. Só o de quinta-feira juntou quase 2,3 milhões de euros.