Depois do “pior dia do ano” em matéria de incêndios, jornalistas e repórteres de imagem da VISÃO puseram-se a caminho. É isto que estão a viver:
Oito mortos em Oliveira do Hospital
por Florbela Alves
Em Oliveira do Hospital, o fogo atingiu todo o concelho, num total de 84 aldeias. O último balanço, às 18 horas, apontava para oito mortos e mais de 100 desalojados, que vão passar a noite no pavilhão gimnodesportivo. O presidente da Câmara de Oliveira do Hospital, José Carlos Alexandrino, admite que o número de mortos possa vir a aumentar. A zona industrial foi fustigada pelo fogo, que destruiu por exemplo empresas de madeiras e de passamanarias, calculando-se que ponha em causa 400 postos de trabalho.
Durante toda a noite, desde as 19 horas de domingo, 15, até às oito da manhã de segunda, 16, a zona esteve sem eletricidade. Esta segunda-feira ainda não tem quaisquer comunicações.
Depósito de automóveis antigos destruído em Alqueve
Por Miguel Carvalho
A imagem mostra um antigo lagar que agora funcionava como depósito de carros antigos (Ford Escort), em Alqueve , Arganil. Os poucos carros que lá estavam foram tirados a tempo, mas já não se salvou mais nada. Nesta zona de Arganil, ao final da tarde, registou.se o reencendimento de vários fogos, com violência. Segundo fonte do comando distrital dos bombeiros, os fogos mais complicados eram em Arganil e Góis.
Vieira de Leiria
por Rosa Ruela
Aos 7 anos, mais coisa menos coisa, ensinam-nos na escola que o pinhal de Leiria foi mandado plantar por D. Dinis. Que a ele se deve a iniciativa de cobrir de pinheiros bravos uma extensa área perto do litoral, com o objetivo preciso de travar a areia que os ventos teimavam espalhar.
Mais tarde, obrigam-nos a recuar uns anos na História – afinal, terá sido D. Afonso III, ou mesmo D. Sancho II, a darem início ao pinhal, hoje com 11 mil hectares. São séculos de história, pensamos ao fazer de carro a estrada até à praia de Vieira de Leiria, entre pinheiros queimados, areia coberta de cinza, postes derrubados e o ar pesado do fumo.
Os carros abrandam à passagem da chamada Casa das Matas, ainda a exalar o calor das chamas que a destruíram de madrugada. No passeio, três botijas de gás intactas. Nas traseiras, os restos de uma bicicleta e de dois carrinhos de mão, vidros escaqueirados e portas arrancadas à pressa. Reparamos na mangueira meio derretida e rebobinamos o filme provável das últimas horas. O susto. Do outro lado da estrada, não sobra quase nada de um campo de futebol.
Um casal de Vieira de Leiria, que encontrámos de garrafões vazios junto à rotunda do Vidreiro, usara a expressão “dor de alma” ao falar da Casa da Mata, da destruição do parque de campismo, da casa da vizinha ardida – “e moramos no centro, mesmo ali no centro”. O fogo, por aqui, poupou a maioria das casas, mas pegou em tudo o que era terreno, pinhal ou baldio.
“Ali ao fundo, onde temos 8 mil metros de pinheiros jovens, não sobrou quase nada. Viemos de lá agora. Levámos estes garrafões para apagar alguma coisa, para não se reacender.” E não foi por falta de limpeza, garantem. Ainda há pouco tempo, pagaram 500 euros a três homens para limparem um outro pinhal, perto praia.” “Ficou tudo impecável, até vão ficar ‘embaçados’ quando virem.”
Veja a galeria de fotos:
Monção
por Cesaltina Pinto
A manhã acordou fria, cinzenta e triste na meia dúzia de freguesias do concelho de Monção afetadas pelo inferno de fogo das últimos dias.
Agora, dá-se vazão à tristeza e à revolta. Os bombeiros respiram finalmente de alívio e fumam o cigarro do rescaldo. Junto à capela da Nossa Senhora da Assunção, em Vales Longas, o comandante dos bombeiros de Monção, José Passos, restava sozinho no que foi o posto de comando do combate aos fogos. “comecei sábado às 20 horas e ainda cá estou”, diz, com voz fraca e arrastada pelo cansaço.
“Foi o pior Incêndio ” dos 25 anos que conta desta vida. Três focos em simultâneo, ” mão humana”, só pode, e o descontrolo ontem ao fim da tarde.
As pessoas foram salvas, algumas casas e gado é que não. Os técnicos da Câmara estão agora a fazer os balanços. Para já, é certo que ardeu uma das maiores manchas florestais de Monção.
Veja as fotos de Lucília Monteiro
Monte Real, Leiria
por Rosa Ruela
A Base Aérea nº 5 de Monte Real está envolta em fumo. Durante a noite, foram evacuadas pessoas para aqui, mas ninguém presta declarações “por enquanto” e há ordens para não deixar passar jornalistas. Na porta de armas, um dos militares mostra algum nervosismo: “A senhora está aqui a fazer perguntas e nós temos um incêndio para apagar.”
Mal deixamos para trás a base aérea, rumo ao litoral, a Vieira de Leiria, há sinais da passagem do fogo na estrada. Ainda se veem pequenas espirais de fumo. Há tanto fumo no ar que é como se a paisagem ficasse mais curta – não se vê nada ao fim de poucos metros.
É estranho, contranatura, estarmos a ir na direção do fumo. Mas é o que estamos a fazer.