Cristoph Nissen, psiquiatra da Universidade de Friburgo, liderou um estudo que demonstra pela primeira vez que dormir bem tem um impacto significativo na atividade do nosso cérebro ao longo do dia. Descansar é decisivo para que o cérebro “reinicie” as ligações neuronais para que, no dia seguinte, seja capaz de assimilar nova informação e criar novas memórias.
Quando não se dorme o tempo suficiente, a atividade cerebral torna-se instável, o que provoca um aumento da atividade elétrica e um bloqueio no mecanismo que possibilita às ligações neuronais “reiniciarem”. Estas consequências traduzem-se numa maior dificuldade para reter novas memórias.
Cristoph Nissen mostra-se entusiasmado com a sua descoberta, que abra a porta a novos estudos sobre o tratamento de doenças do foro psiquiátrico. Uma das terapias mais eficazes na depressão é da privação do sono, que permite restabelecer as conexões mentais do paciente. O estudo mais recente permite uma compreensão mais profunda sobre o assunto e pode ser adaptado para oferecer melhores tratamentos aos doentes psiquiátricos.
Em declarações ao jornal The Guardian, o especialista afirma que o estudo ilustra “a importância do sono na atividade cerebral e como este não é um desperdício de tempo”.
Os resultados são importantes para a Hipótese da Homeostase Sináptica, teorizada pela Universidade de Wisconsin-Madison em 2003, que explica porque é que o nosso cérebro necessita de descansar depois de estar um dia inteiro a processar o mais variado tipo de informações. A hipótese sustenta que, quando estamos acordados, as sinapses – zonas ativas de contacto entre uma terminação nervosa e outros neurónios – fortalecem a ligação entre as nossas células cerebrais, e que estas vão ficando saturadas com a informação absorvida ao longo do dia. O processo consome muita da nossa energia e o cérebro sente necessidade de descansar, de modo a consolidar as memórias e a estar pronto para o dia seguinte.
Na publicação Nature Communications, Nissen descreve a série de testes feitos a 11 indivíduos que foram obrigados a permanecer acordados. Depois utilizou pequenos choques elétricos para fazer disparar a atividade cerebral e percebeu que, quando estamos privados de sono, um pequeno choque é suficiente para os nossos músculos se mexerem, uma prova de que o cérebro se encontra num estado de excitação.
De seguida, Nissen virou-se para a estimulação cerebral com o propósito de copiar a forma como os neurónios disparam quando estão a criar memórias. E constatou que é mais difícil fazer com que os neurónios respondam em pessoas que não tenham descansado o suficiente.
Ao juntar estes dados, o líder do estudo chegou à conclusão que dormir ajuda o cérebro a acalmar e a preparar-se para criar memórias. Em contraste, nas pessoas privadas de sono o cérebro encontra-se num frenesim de atividade elétrica que bloqueia esse processo.
A descoberta poderá ser importante para explicar o porquê de ressonarmos, por exemplo, e pode também ajudar trabalhadores por turnos e militares que lidam com privação de sono a obterem novos medicamentos tendo em vista a normalização da atividade cerebral.