“Uma vez mais, fecha-se a boca a Wiera Gran, estou mesmo desolada.” Foi com esta frase que a jornalista e escritora Agata Tuszynska, autora de uma biografia daquela que ficou conhecida como a “cantora do gueto de Varsóvia”, comentou a decisão do Tribunal Relação da capital polaca de dar razão à família de Wladyslaw Szpilman.
No livro Wiera Gran: A Acusada, publicado pela editora Wydawnictwo Literackie, em 2010, Tuszynska cita a cantora de origem polaca
acusando Szpilman de ter feito parte da polícia judia no gueto de Varsóvia. Durante a II Guerra Mundial, a maioria dos seus 400 mil residentes foram deportados para campos de concentração ou morreram de fome e doença.
Wiera Gran, que morreu em 2007, com Alzheimer, foi ela própria acusada de ter colaborado com os nazis. Em 1947, respondeu num tribunal de cidadãos do Comité Central dos Judeus Polacos, mas apesar de ter sido absolvida dois anos depois nunca se livrou das críticas e acabou por emigrar para Israel e mais tarde para França, onde atuou com Maurice Chevalier e Charles Aznavour.
Em 2013, a viúva e o filho do Szpilman interpuseram uma ação por difamação contra a escritora e a editora. Nas audiências, depuseram sobreviventes do gueto como Wladyslaw Bartoszewski, historiador e antigo ministro dos Negócios Estrangeiros polaco, que pertenceu à Resistência; todos garantiram que Wiera Gran estava enganada.
Com a decisão do Tribunal da Relação, Agata Tuszynska e a Wydawnictwo Literackie têm quinze dias para pedir desculpas públicas à família de Szpilman, e, no caso de haver mais edições, retirar da obra todas as passagens incriminatórias. “Esta decisão permitirá melhorar os standards éticos na Polónia e questionará a noção mal interpretada de liberdade de expressão”, congratulou-se Andrzej Szpilman, filho do músico e compositor.
O filme O Pianista, realizado por Roman Polanski, em 2002, dois anos depois de Szpilman ter morrido, baseia-se nas suas memórias, escritas por Jerzy Waldorff, que o conheceu em 1938. Nelas, conta-se como ele usou a música para sobreviver à ocupação nazi. O Pianista ganhou a Palma de Ouro, em Cannes, e três Oscares, incluindo o de melhor Ator para Adrien Brody.