“Há dois mil anos, não havia frase que se dissesse com mais orgulho do que civis Romanus sum (“sou um cidadão romano”). Hoje, no mundo da liberdade, não há frase que se diga com mais orgulho que ‘Ich bin ein Berliner’… Todos os homens livres, onde quer que vivam, são cidadãos de Berlim!”
John Fitzgerald Kennedy (1963)
Há sempre um momento em que a revolta fala mais alto. Um ponto de viragem em que o medo deixa de ter poder sobre as mentes e os homens se sentem imparáveis, invencíveis, maiores do que a própria vida.
Nos primeiros dias de novembro de 1989, essa energia tomou conta das ruas de Berlim Ocidental, com centenas de milhares de pessoas a mostrarem, de forma pacífica, que queriam a mudança. Não suportavam mais o isolamento e as privações, não queriam mais guerras nem divisões.
O governo da República Federal Alemã (RFA) acabaria por ceder, a 9 de novembro, anunciando em conferência de imprensa alterações à chamada “lei das viagens”, explicando que iriam ser concedidos vistos para todos os que quisessem cruzar o muro de Berlim. E foi no momento em que o jornalista Peter Brinkman perguntou a Günter Schabowski, diretor do Partido Socialista Unitário da Alemanha, quando é que essa medida entraria em vigor, que tudo se precipitou:
– “Imediatamente”.
A palavra funcionou como um “abre-te sesámo” para as mentes sedentas de liberdade. Já não havia forma de travar a multidão que acorreu à Porta de Brandemburgo, nem como deter os que começaram a trepar o muro, até então electrificado.
Naquele dia, alemães dos dois lados de Berlim armaram-se com martelos e picaretas e, em catarse, entre lágrimas e gritos de alegria, derrubaram a última fronteira da Guerra Fria.