“Mandem-na de volta! Mandem-na de volta!”, gritou a multidão que assistia a um comício do presidente Donald Trump, ontem à noite, na Carolina do Norte.
A reação surgiu na sequência dos ataques do presidente a Ilhan Omar, uma das congressistas que denunciou as condições desumanas dos centros de detenção de migrantes do país.
Também foram visadas no seu discurso outras três congressistas Democratas: Alexandria Ocasio-Cortez, Ayanna Pressley e Rashida Tlaib.
Já esta semana, o presidente tinha publicado uma mensagem no Twitter dirigida às quatro mulheres: “Voltem e vão ajudar a consertar os locais completamente disfuncionais e infestados de crime de onde vieram.” Apenas Ilhan Omar não nasceu nos EUA, mas é cidadã norte-americana desde os 17 anos. A atitude do presidente foi formalmente condenada pela Câmara dos Representantes pelo seu conteúdo racista.
Ilhan Omar respondeu aos mais recentes insultos do presidente, através do Twitter, com o excerto de um poema de Maya Angelou e, mais tarde, escreveu: “Estou onde pertenço, na casa do povo, e vai ter de lidar com isso.”
Difíceis caminhos
A mais nova de sete irmãos, Ilhan Omar nasceu em Mogadíscio, a capital da Somália, há 37 anos. A mãe morreu quando tinha apenas 2. Seriam o pai e o avô a tomar conta das crianças. A guerra civil na Somália forçou a família a abandonar o país.
Viveram quatro anos num campo de refugiados, no Quénia, antes de conseguirem asilo nos Estados Unidos da América, em 1995. A família estabeleceu-se em Minneapolis, no Minnesota.
Durante a infância nos EUA, foi vítima de bullying na escola por usar o hijab. Depois da sua eleição, mais de 20 anos depois desses episódios, a Câmara dos Representantes revogou a proibição de cobrir a cabeça no Congresso, ao fim de 181 anos, dando liberdade a Ilhan Omar para usar o hijab.
Pioneira na política
Formada em Ciência Política e Relações Internacionais, começou a sua carreira, em 2012, como gestora de campanhas. Em 2016, foi eleita para a Câmara dos Representantes do Minnesota pelo Partido Democrata.
No ano passado, candidatou-se à Câmara dos Representantes dos Estados Unidos da América, vencendo com 78% dos votos. Tornou-se, assim, uma das duas primeiras mulheres muçulmanas eleitas para o Congresso.
Firmes convicções
Tem criticado duramente a política de imigração de Trump. Também denunciou a intervenção da Arábia Saudita no Iémen e a cumplicidade dos EUA perante os ataques aos Direitos Humanos dos seus aliados de Riade.
Outro dos seus alvos é o lobby pró-Israel no Congresso, o que já lhe valeu acusações de antissemitismo. O senador Bernie Sanders saiu em sua defesa, explicando que criticar o Governo israelita não é equivalente a antissemitismo.
Campanha suja
Em abril, Trump publicou nas redes sociais um vídeo que associava um discurso da congressista em defesa dos direitos dos muçulmanos a imagens do 11 de Setembro. O vídeo foi motivado por uma manchete do tabloide New York Post, que fazia a mesma ligação.
Denunciando a islamofobia no país, Ilhan Omar defendia no referido discurso que os muçulmanos não podem ver os seus direitos diminuídos por causa “daquilo que algumas pessoas fizeram”. Chegou a ser detido um homem que ameaçou matar a congressista, acusando-a de terrorismo. Vários democratas vieram em sua defesa e Ilhan Omar fez saber que não foi eleita para ficar em silêncio.