Missionário de São João Batista, o Padre Wilson Reveque faz hoje 39 anos. De tão perdido nos dias que está, é só quando lhe perguntamos a idade que se apercebe do seu aniversário. Estava na cidade da Beira quando tudo aconteceu e esta quinta-feira, 21, conseguiu chegar a Nampula por estrada. Dois dias de viagem num percurso que habitualmente leva um dia a fazer, mil e poucos quilómetros com um grau de destruição nunca visto, como conta à VISÃO, por telefone, a partir de Nampula. A estrada que passa por Dondo, Tica (província de Sofala) e Lamego é a única por onde é possível sair da Beira e, mesmo essa, segunda atesta, ficou destruída em algumas zonas. “Nunca vi uma destruição daquelas. A Beira nunca mais será a cidade que era antes. Está tudo estragado, muitas casas destruídas, algumas até sem paredes, muitas escolas, a Universidade Católica, nem a catedral nem a casa do bispo têm teto.”
Pelo caminho até Nampula, o Padre Wilson viu muita gente à beira da estrada: “Andam na rua como se fossem nómadas. Almoçam e jantam cana de açúcar. Muita gente está a passar fome. Um pão custava 4/5 meticais, agora custa 20. Falta alimentação, falta roupa, falta abrigo.” Até o gado anda à deriva, conforme relata: “Há vacas no caminho, não têm onde ficar”. Numa zona da estrada, a ponte ruiu completamente e o Padre Wilson teve que largar o carro onde seguia. “Apanhei uma lancha e, depois, apanhei outro carro, um transporte público.” Também viu três carros que não escaparam à derrocada da estrada, apenas o motorista de um deles se salvou. Passou por campos atolados, rios que continuam a encher, fábricas de arroz completamente alagadas. Conforme diz, a destruição é visível num raio de 130 quilómetros em relação à cidade da Beira.
Sobre a noite em que o Idai soprou, recorda: “Houve avisos, as pessoas estavam avisadas. Por exemplo, ouvi a Proteção aconselhar as pessoas para porem contraplacado nas casas. Naquela noite, primeiro, passou um vento vindo do Interior para o mar. Mas depois, entre a meia-noite e a uma da manhã, houve um vento que veio do mar em direção ao continente”.
Assim que chegou a Nampula, o Padre Wilson regressou logo ao seu dia-a-dia. Os missionários de São João Batista encarregam-se da gestão de uma escola secundária e profissional, a Escola Polivalente São João Batista do Marrere, em Nampula, que inclui também um lar de estudantes para miúdos vindos das comunidades. Além disso, ainda dão apoio ao Hospital Central do Marrere.