Espaço aéreo condicionado, milhares nas ruas a desafiar cordões policiais e, pela primeira vez, o envio de um veículo anti-distúrbios, equipado com canhões de água, nas ruas catalãs. Perante o braço-de-ferro entre Madrid e Barcelona, de consequências imprevisíveis, Portugal exclui qualquer aviso a quem viaje para a capital catalã a 1 de outubro, data do referendo da secessão. “Não está previsto”, responde à VISÃO fonte oficial do Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Na Alemanha, França e Holanda, a diplomacia está já a pedir prudência aos seus cidadãos por receio das consequências do voto, de acordo com a AFP. “Seguir à letra as recomendações das forças da ordem”, aconselha Berlim, que não descarta “uma escalada” dos acontecimentos. “Evitem protestos. Tenham cuidado”, adverte o ministério das Relações Externas francês, antes de alertar que as manifestações podem “continuar nos próximos dias e alterar o transporte”.
A dois dias do referendo sobre a secessão nada aponta para que o governo catalão (Generalitat) desista da consulta popular, como insiste Madrid e a própria justiça espanhola. Antes pelo contrário. Esta sexta-feira, a Generalitat convocou mais de 5,3 milhões de catalães para votar no próximo domingo em 2 315 colégios eleitorais. E até mostrou as novas urnas, depois de a polícia ter apreendido as urnas originais e milhões de boletins de voto.
Há duas semanas que as ruas de Barcelona têm sido palco de protestos contra as operações policiais, que tentam evitar a realização do referendo. Esta sexta-feira, centenas de tratores, em apoio ao referendo, rumaram e estacionaram frente ao edifício do governo catalão. A maioria das manifestações tem sido pacífica, com a excepção de pequenos incidentes – por exemplo, durante os raides e detenção de dirigentes do governo catalão vários carros da polícia foram destruídos. O pico de tensão está, no entanto, agendado para domingo.
O ministério do Fomento anunciou que irá restringir o espaço aéreo sobre Barcelona, uma medida que atinge helicópteros e avionetas mas, por enquanto, sem impacto no aeroporto internacional El Prat de Llobregat. O contingente policial tem ordens para desalojar, sem violência, os centros de votação e encerrá-los. Restam dúvidas sobre se a polícia catalã, Mossos, terá capacidade (e vontade) para esta missão ou se será necessária a intervenção da polícia espanhola, reforçada em larga escala com o envio de cruzeiros para servir de apoio logístico. Entre os meios disponíveis está o canhão de água do veículo anti-distúrbios – de tecnologia israelita e nunca usado antes em Espanha – com capacidade para emitir jatos até 200 km por hora.
Grupos comerciais, como o Corte Inglés, Inditex e o grupo japonês Uniqlo, avançaram também que as respectivas as lojas vão permanecer encerradas a 1 de outubro em Barcelona. O ambiente de tensão cresce à medida que se aproxima o dia R, de referendo, ao qual as autoridades portuguesas parecem alheias. No portal das comunidades, na pasta sobre Espanha, o único destaque é dado à “possibilidade de roubos nas cidades principais ou históricas, em especial nas zonas antigas” e a recomendação principal centra-se na necessidade dos “automóveis circularem com as portas trancadas no interior das cidades”. Nem mais uma palavra sobre a situação na Catalunha, a não ser a disponibilidade de uma aplicação gratuita “My112” para comunicar situações de emergência.