Controverso, arrojado, imprevisível. Quentin Tarantino é isto e muito mais. O realizador, que faz esta semana 56 anos, deixou os cinéfilos a salivar ao anunciar o seu nono filme (se contarmos as duas partes de Kill Bill como uma só película, como o próprio realizador prefere), Once Upon a Time in Hollywood, que conta com um cast recheado de estrelas, como Leonardo DiCaprio, Brad Pitt e Margot Robbie.
Com este novo filme, que deverá estrear no verão, Tarantino mantém a sua média de um filme a cada três anos. No dia do seu aniversário – 27 de março –, a VISÃO recorda as outras longas-metragens do realizador, por ordem crescente segundo a sua classificação no site agregador de críticas Rotten Tomatoes.
8. Death Proof (2007) – 63%
A filmografia de Tarantino sempre foi reconhecida por dividir a opinião das audiências. Mas este é geralmente apontado como o ponto fraco do reportório do realizador.
Death Proof nasceu do desejo do realizador fazer um filme que homenageasse os géneros de perseguição de carros, slasher (assassinos psicopatas a matar aleatoriamente, de que Halloween, de John Carpenter, é o expoente máximo) e exploitation (género de cinema que pretende chocar as audiências, normalmente através de muita violência ou cenas de cariz sexual).
Foi desse desejo que nasceu a personagem Stuntman Mike, interpretado por um soberbo Kurt Russel, que aqui interpreta um psicopata que mata jovens com o seu carro “à prova de morte”.
Apesar de ter sido celebrado pela forma como aborda as suas personagens femininas (especialmente na reta final do filme), poucos perdoaram as transições bruscas no tom do filme, nomeadamente da comédia para o terror e para violência, e de volta para a comédia, além dos longos e aborrecidos diálogos – coisa que é ainda mais surpreendente, tendo em conta que os diálogos são precisamente uma das características mais aclamadas dos seus filmes.
7. Os Oito Odiados (2015) – 74%
Um western com mais de três horas sobre oito personagens que se encontram confinadas a uma paragem de carruagens durante uma tempestade de neve pode despertar a curiosidade do espetador ou simplesmente desencorajar a visualização do filme.
Para quem aguenta o filme até ao fim, é inegável dizer que é uma viagem conturbada.
Com um elenco que inclui Samuel L. Jackson, Kurt Russell, Channing Tatum, Jennifer Jason Leigh, Walton Goggins, Demián Bichir, Tim Roth, Michael Madsen e Bruce Dern, o filme, que tem seis capítulos, demora o seu tempo a desenrolar-se, e lentamente vai permitindo que a sua audiência junte diferentes peças até formar um puzzle completo, antes de chegarem os créditos finais.
Apesar de muitos acusarem Tarantino de ter feito, desta vez, um filme pouco dinâmico, houve quem louvasse a tensão e o suspense, assim como o humor, muito típico da escrita do realizador, e da construção e personalidade dos personagens.
O filme foi nomeado para três Óscares: Melhor Atriz Secundária, Melhor Cinematografia e Melhor Banda Sonora Original, ganhando nesta última categoria e permitindo que Ennio Morricone finalmente pudesse guardar a estatueta dourada no seu armário de troféus.
6. Kill Bill (Vol. 1 e 2) (2003/04) – 84%
Os filmes que deram vida a uma das personagens mais icónicas do cinema do século XXI, Beatrix Kiddo, ou “A Noiva”, interpretada categoricamente por Uma Thurman, contam uma história clássica da História do cinema: a velha vingança.
A personagem foi criada durante as filmagens de Pulp Fiction, e uma das maiores influências para o seu desenvolvimento foi o “homem sem nome”, interpretado por Clint Eastwood no filme O Bom, o Mau e o Vilão (e outros): “Ele não diz quase nada [durante o filme], mas mesmo assim consegue criar uma personagem completa”, elogiou Tarantino, em entrevistas sobre Kill Bill.
As críticas pendem para ambos os lados do espectro, sendo que as mais negativas acusam o filme de ter mais estilo do que substância. As positivas, por seu lado, exaltam a destreza com que lida com a mistura de estilos.
5. Django Libertado (2012) – 86%
O filme de Tarantino que, até à data, mais rendeu nas bilheteiras conta (também) uma história de vingança: neste caso, de um escravo libertado, Django (Jamie Foxx), que, com a ajuda de um caçador de recompensas alemão, o Dr. King Schultz (Christoph Waltz, numa interpretação que lhe valeu a atribuição do Óscar de melhor Ator Secundário pelo segundo ano consecutivo, depois de ter vencido com Sacanas Sem Lei, do mesmo Tarantino) tenta salvar a sua esposa, Broomhilda von Shaft (Kerry Washington).
Em 2007, o realizador já havia prometido fazer um western, mas à volta de um tema difícil: “Quero fazer filmes que lidam com o passado horrível, como a escravatura, mas como spaghetti westerns, não como os filmes tradicionais que lidam com problemas graves. Como se fossem filmes de um género específico, mas que lidam com tudo aquilo que a América não lidou antes, porque estava envergonhada, e com que os outros Países não lidaram porque sentem que não tem direito a fazê-lo.”
Mas uma das críticas mais recorrentes que o filme enfrentou foi exatamente a maneira leve como terá retratado a escravatura. “A escravatura americana não foi um spaghetti western, foi um Holocausto”, disse o realizador Spike Lee, que frequentemente critica a abordagem de Tarantino em relação aos negros e, especialmente, o uso frequente da palavra “nigger”.
No entanto, na sua grande maioria, as críticas a Django foram muito positivas, tendo até o realizador de documentários Michael Moore considerado o filme “uma das melhores sátiras de sempre”.
O filme venceu dois dos cinco Óscares para que esteve nomeado: além do de Melhor Ator Secundário, também venceu o de Melhor Argumento Original.
4. Jackie Brown (1997) – 87%
Depois do sucesso de Pulp Fiction, que virou o paradigma do cinema e fez com que muitos olhos ficassem postos no realizador, Tarantino ofereceu algo completamente diferente.
Jackie Brown é o único filme que não tem um argumento original de Tarantino (baseia-se no livro Rum Punch, de Elmore Leonard) e é inspirado nos filmes de blaxploitation dos anos 70 (protagonizados por atores negros, e com os negros como público-alvo). A atriz principal é Pam Grier, no papel que partilha o nome com o filme, e que também foi uma das principais atrizes desse género cinematográfico (em Foxy Brown e em Coffy).
O filme segue Jackie, que se vê metida num golpe de 12 milhões de dólares e tem de enganar criminosos (Samuel L. Jackson e Robert De Niro) e agentes da polícia (Michael Keaton e Michael Bowen), enquanto lida com o seu interesse amoroso (Robert Forster, que arrecadou uma nomeação para Óscar pela sua performance).
Apesar de ter sido recebido com ceticismo por, supostamente, não estar ao nível de Pulp Fiction, muitos críticos olham para este filme hoje, 22 anos depois, como o mais maduro da filmografia de Tarantino.
3. Sacanas Sem Lei (2009) – 88%
Este foi o primeiro filme em que Tarantino decidiu rescrever os livros de história: aqui imagina uma equipa de soldados judeus que tinham como principal objetivo assassinar o máximo de soldados nazis possíveis – e que no fim matam Hitler. “Cada homem no meu comando deve-me cem escalpes nazis”, vociferava o Tenente Aldo Raine, interpretado por Brad Pitt, no monólogo que introduzia as personagens.
Como muitos dos filmes anteriores, Sacanas Sem Lei é sobre vingança. Não se trata, porém, de uma vendetta pessoal, mas sim histórica, onde o povo judeu tinha agora oportunidade de libertar todas as suas frustrações.
Este é um dos filmes mais aclamados da filmografia do realizador, quando estreou em Cannes (onde foi aplaudido durante 10 minutos). Contudo, tal como aconteceria mais tarde com Django, nem todos se mostraram fãs deste recital de violência: representantes da comunidade judaica reclamaram da exagerada agressividade e acusaram o filme de “falta de profundidade moral”.
O filme arrecadou oito nomeações para Óscar, sendo que apenas lhe foi atribuído o de Melhor Ator Secundário, pela performance arrebatadora de Christoph Waltz, que, na altura, se estreava em filmes americanos, tendo antes apenas participado em filmes e novelas alemãs.
2. Cães Danados (1992) – 91%
O filme que marcou a estreia de Quentin Tarantino na cadeira de realizador, e que nos apresentou a algumas das imagens de marca do realizador, ainda continua a ser aclamado como uma das melhores marcas do seu percurso.
Com uma química eletrizante entre os membros do cast, que incluía atores como Harvey Keitel, Tim Roth, Chris Penn, Steve Buscemi, Lawrence Tierney, Michael Madsen, Edward Bunker e o próprio Tarantino (que, como ator, é sofrível, para não dizer pior, o que não o impede de representar em quase todos os seus filmes) e um argumento brilhante (escrito pelo próprio realizador), o filme retrata um grupo de assaltantes e os eventos que antecederam e precederam o assalto falhado em que se viram envolvidos.
Considerado como um dos melhores filmes independentes de sempre, Cães Danados deixou os críticos de cinema impressionados com o potencial de Tarantino, apesar de muitos criticarem a exagerada e explícita violência do filme (nomeadamente a cena de tortura de um polícia por parte de Mr. Blonde).
1. Pulp Fiction (1994) – 94%
É sem grandes surpresas que encontramos Pulp Fiction na primeira posição desta lista.
Um dos filmes contemporâneos mais influentes do cinema moderno, todas as imagens de marca do realizador se encontram nesta obra: a narrativa não linear, músicas dos anos 60, 70 e 80, violência exagerada, longos diálogos com alusões à cultura pop…
A história é dividida em três tramas principais que se ligam. A primeira segue dois assassinos da máfia (Samuel L. Jackson e John Travolta), a segunda um pugilista (Bruce Willis) e a terceira um casal que tenta assaltar um restaurante (Tim Roth e Amanda Plummer)
Tal como os seus restantes filmes, também Pulp Fiction dividiu pelo menos uma parte da crítica: a grande maioria elogiou o seu trabalho, energia e a lufada de ar fresco que trouxe ao cinema; mas alguns condenaram a violência desnecessária e acusaram Tarantino de “roubar” ideias, mais do que apoiar-se em influências de outros autores.
A verdade é que Pulp Fiction influenciou toda uma geração de realizadores e uma quantidade interminável de filmes, daí que se mantenha como um dos filmes mais importantes do cinema moderno. E ter perdido o Óscar de Melhor Filme para Forrest Gump, hoje considerado um filme menor, é visto como uma das grandes injustiças da História do cinema. Sendo que nesse mesmo ano também outra obra-prima estava nomeada – Os Condenados de Shawshank.