O colecionador de arte Sindika Dokolo, marido da empresária angolana Isabel dos Santos, deu mais um passo para instalar no Porto a sede da sua fundação, ao comprar a casa Manoel Oliveira por 1,58 milhões de euros. A casa projetada pelo arquiteto Souto Moura para instalar o espólio do cineasta foi adquirida em hasta pública, lançada pela autarquia, esta segunda feira.
O titular da compra foi a empresa Supreme Treasure, que tem como gerente Mário Leite Silva, braço direito da filha do presidente angolano para os negócios em Portugal. Criada em setembro do ano passado, esta empresa tem por objeto a “exploração de museus, monumentos, edifícios e outros sítios históricos, incluindo a preservação e a exposição dos objetos, sítios e recursos naturais de interesse histórico, cultural e educacional.” Acresce a este objetivo “a compra, venda e revenda de imóveis.”
Festival de música, exposições e intercâmbio
Satisfeita ficou a Câmara Municipal do Porto que, além do encaixe financeiro de 1,58 milhões de euros, vê concretizar-se um acordo estabelecido, em março do ano passado, com a Fundação Sindika Dokolo. A instituição do empresário congolês tem uma das maiores coleções de arte moderna africana, tendo já exposto parte dela no Porto, com a mostra ‘ You love me, You love me not’.
Depois de ter sido recebido com honras pelo presidente Rui Moreira, que lhe atribuiu a medalha de mérito da cidade, grau ouro, pelo seu contributo para o desenvolvimento cultural, o casal Sindika e Isabel dos Santos confessou estar seduzido pela dinâmica cultural da cidade e querer instalar aqui uma base dos seus negócios. Algo que muito se deve ao trabalho realizado pelo falecido vereador da cultura, Paulo Cunha e Silva, principal fomentador da relação então estabelecida com o colecionador de arte.
Desde então, estreitaram-se laços com algumas instituições do Porto, como a Casa da Música ou a Fundação de Serralves, nas quais Sindika Dokolo passou a integrar o conselho de fundadores. O marido de Isabel dos Santos foi também um dos patrocinadores do último Fórum do Futuro, que em outubro reuniu alguns dos mais importantes nomes do pensamento contemporâneo.
Aproximar Portugal e Angola
Promessas então lançadas pela Fundação apontavam para um intercâmbio cultural entre os dois países. À VISÃO, Fernando Alvim, vice-presidente da Fundação Sindika Dokolo, disse mesmo estar previsto o financiamento a atividades culturais que promovessem a aproximação entre artistas portugueses e angolanos. Nomeadamente, um festival de música e uma grande exposição que pusesse em diálogo a coleção de arte contemporânea africana com a de Serralves. “África tem uma história moderna e contemporânea suficientemente importante para circular pelo mundo. É importante ter uma instituição no Porto para esvaziar os complexos vigentes em muitas sociedades em relação África”, disse Fernando Alvim. Os planos passavam ainda por financiar intercâmbios culturais que levasse artistas portugueses a Angola e trouxesse angolanos a Portugal.
Ao Jornal de Negócios, Sindika Dokolo adiantou que a casa Manoel de Oliveira, agora adquirida, iria ser utilizada “como residência para artistas africanos e como espaço para a concepção de projetos envolvendo criadores africanos e europeus”.
Rejeitada pela família de Oliveira
Foi com alívio que Rui Moreira se viu finalmente livre de um problema que se arrastava desde 2014, altura em que a casa foi a leilão pela primeira vez, mas não apareceu nenhum interessado. Localizado na Foz, a casa é composta por um conjunto habitacional e um espaço de exposições, numa área total de 1800 metros quadrados. Nunca tendo sido ocupado, este equipamento começava a mostrar sinais claros de degradação.
Depois de muitas peripécias, a casa acabaria rejeitada pela família do cineasta, que, depois da morte deste, decidiu entregar o espólio à Fundação de Serralves, que irá construir um equipamento destinado especificamente para esse efeito.