Uma equipa de cientistas e médicos americanos anunciou ter dado os primeiros passos na utilização da poderosa ferramenta de edição de genes, Crispr, no tratamento do cancro. O ensaio, que envolveu três doentes em estado avançado, começou há nove meses, altura em que a equipa da Universidade da Pensilvânia usou o Crispr para eliminar três genes dos linfócitos T. Os pedaços de ADN apagados interferem com a capacidade daquelas células de defesa combaterem o cancro, pelo que o objetivo foi torná-las mais eficazes.
O procedimento acaba por ser bastante semelhante à já aprovada terapida de CAR-T cells, uma vez que se trata da extração de linfócitos T do doente, manipulação destas células em laboratório para as tornar mais combativas e específicas do cancro em questão, multiplicação dos novos ‘soldados’ e infusão das mesmas no paciente. A novidade é o recurso à ferramenta Crispr, que tornar o processo mais rápido, eficaz e barato.
Esta tecnologia já está a ser amplamente testada, em particular na indústria alimentar, pelo que seria uma questão de tempo até saltar para o tratamento do cancro. Neste pequeno ensaio clínico de fase I, foram recrutados dois pacientes com mieloma múltiplo, um cancro sanguíneo, e um com sarcoma. Os três na casa dos 60 e previamente sujeitos a várias linhas de tratamento, incluindo radio e quimioterapia.
Ao fim destes nove meses, os pacientes continuam vivos, sem sentirem efeitos secundários da terapia. Além disso, as células T manipuladas continuam pelo organismo, a combater o cancro, esperam os médicos.
Estes resultados preliminares foram apresentados pelo hematologista responsável pelo estudo, Edward Stadtmauer, em congresso, mas ainda não estão publicados numa revista científica.
Há uma grande expectativa da comunidade médica relativamente à utilização desta forma simples e rápida de manipulação de ADN – que consiste essencialmente na eliminação de dois ou três genes, que podem fazer toda a diferença no funcionamente de uma célula – a várias áreas da medicina. Apesar de os principais centros de investigação americanos e europeus estarem a ser cautelosas no recurso a esta técnica, suspeita-se que vários grupos de cientistas a trabalhar na China já recorram ao Crispr sem cerimónias.