Faz questão de dormir bem e deita-se todos os dias às nove da noite; segue uma alimentação à base de produtos frescos e tenta evitar viver com stresse. Manuel Pinto Coelho acredita que este é parte do segredo para ter conseguido ser pai aos 70 anos. “O exercício também é notável, porque é uma forma eficaz e rápida de promover a produção de hormonas”, explica Pinto Coelho, médico clínico geral, pós-graduado em antienvelhecimento que, em outubro passado, teve a Sofia – 46 anos depois de ter o primeiro filho, Bernardo.
São casos como o de Manuel Pinto Coelho que provam que, ao contrário das mulheres, os homens têm uma fertilidade que pode ser longa e sem fim.
Não existe, na realidade, uma limitação para o homem deixar de ser fértil, esclarece Joaquim Garcia e Costa, endocrinologista no Hospital CUF Infante Santo. A explicação é simples: “Em relação à fertilidade assiste-se, com a idade, a uma diminuição do número de espermatozoides na ejaculação e nos próprios testículos”, mas mantém-se a capacidade reprodutora.
Os números do Instituto Nacional de Estatística confirmam que, neste ponto, as leis biológicas favorecem o sexo masculino: em 2016, por exemplo, registaram-se 404 nascimentos em que os pais tinham 55 ou mais anos.
No entanto, o endocrinologista lembra que, tal como sucede com as mulheres, a paternidade tardia pode ter alguns riscos. “O esperma dos homens idosos apresenta um aumento progressivo de mutações genéticas”, o que significa que há uma maior probabilidade de algumas doenças afetarem os filhos. Joaquim Garcia e Costa recorda, a propósito, um estudo que verificou um aumento das doenças psiquiátricas, do consumo de drogas e da diminuição da capacidade intelectual nos descendentes de pais mais idosos.
A verdade é que pelo mundo, sucedem-se notícias que dão conta de homens, como Richard Gere, Robert de Niro ou Clint Eastwood, que têm filhos depois dos 65 anos – idade em que, segundo os médicos, pode acentuar-se a queda dos níveis de testosterona, a poderosa hormona masculina.
A diminuição desta e de outras hormonas masculinas – que se chamam androgénios – não é, porém, um dado certo na vida de um homem. “A partir dos 60 ou dos 65 anos, poderá fazer-se notar um défice desses androgénios, mas isso não significa que aconteça em todos os homens”, esclarece Nuno Monteiro Pereira, urologista e andrologista no Hospital Lusíadas de Lisboa. Ou seja: há homens que podem chegar ao fim da vida com níveis normais daquelas hormonas; outros irão perdê-los gradualmente, entrando naquilo que é conhecido como andropausa – termo que, segundo os endocrinologistas, é totalmente errado, exatamente por na vida de o homem não existir nenhuma “pausa”, tal como sucede com a mulher na menopausa, em que deixa completamente de se menstruar. Nos homens, defendem os médicos, o termo correto é “deficiência androgénica do envelhecimento masculino”.
Apesar das diferenças, alguns dos sintomas que elas sentem nessa fase da vida são também testemunhados pelo sexo oposto. Segundo Nuno Monteiro Pereira, “há homens que sentem afrontamentos muito semelhantes aos das mulheres na menopausa”, entre outros sintomas, como estados de tristeza, alterações do sono ou aumento da próstata. Mas a queixa mais comum, acrescenta o urologista, prende-se com a vida sexual. É que o desejo sexual diminui, a ereção torna-se mais difícil e o tempo entre as ejaculações aumenta.
São exatamente estas queixas de ordem sexual que mais preocupam os homens que chegam ao consultório de Garcia e Costa. “As mais frequentes estão relacionadas com a diminuição da libido e a disfunção sexual erétil, as quais proporcionam uma forte diminuição da confiança e da autoestima”, conta, lembrando que há doentes que “chegam a ter ideias suicidas”. Por isso, diz, a “abordagem clínica deve ser bastante cuidadosa e multidisciplinar”. Monteiro Pereira passa pela mesma experiência com os seus doentes e garante ser muito importante falar sobre os problemas de foro psicológico. Segundo conta, há homens a tomar medicamentos para depressões desnecessariamente, porque, explica, “existindo um défice de hormonas, tudo se pode resolver com reposição hormonal”. Na sua opinião, há atualmente estudos suficientes que garantem a segurança destes tratamentos – cujo objetivo é combater os sintomas da deficiência androgénica “sem provocar efeitos colaterais”.
Depois de fazer 65 anos, Manuel Pinto Coelho começou a fazer tratamentos de reposição hormonal individualizada, além da suplementação nutricional. Não sabe se essa opção contribuiu para que conseguisse ser pai aos 70 anos e há dois, quando nasceu outra filha, a Lara. “Aliás, a Sofia, que nasceu em outubro passado, veio para fazer companhia à Lara, que tem uma grande diferença etária em relação aos irmãos. Queríamos que ela tivesse uma irmã com uma idade mais próxima da dela, já que os outros quatro têm idade para serem seus pais ou até avós.”
Combater os sintomas da andropausa
Tratamento hormonal
A reposição da testosterona pode ser efetuada na forma injetável (intramuscular) ou por absorção cutânea, sob a forma de gel ou adesivos. Estas administrações permitem aumentar os níveis de testosterona, combatendo os sintomas. Ajudam à normalização da libido, à melhoria da ereção da energia, das alterações de memória e do bem-estar físico e intelectual. Mais tarde, estes tratamentos podem beneficiar a estimulação da medula óssea (no sangue) e o aumento da formação óssea, evitando-se fraturas. Mas só se deve fazer uma reposição se existir uma insuficiência androgénica comprovada, e só depois de se ter verificado que esta não se deve a outras causas.
Emagrecer
Há estudos que comprovam que o emagrecimento, nos casos de quem tem peso a mais, aumenta os níveis de testosterona e diminui as queixas psíquicas.
Boa forma física
A prática de desporto conduz à melhoria da autoestima e ao equilíbrio físico e psíquico que melhoram a sexualidade e a maioria dos sintomas provocados pela deficiência androgénica.
Falha de hormonas: quais os sinais
► Alterações da capacidade muscular
► Alterações do sono
► Idas noturnas à casa de banho
► Aumento do tamanho da próstata
► Alterações de humor
► Afrontamentos
► Depressões
► Diminuição do desejo sexual
► Dificuldade de ereção (e se for perdida é mais complicado recuperar)
► Dificuldades de ejaculação e aumento do período de tempo que passa entre as ejaculações
Casos famosos
► Richard Gere que, em agosto fez 70 anos, foi este ano pai de um rapaz
► Robert de Niro foi pai pela sexta vez, em 2011, quando tinha 68 anos
► Clint Eastwood foi pai pela sétima vez, aos 66 anos