A alimentação infuencia, ainda mais do que se pensava, o risco ou não de se desenvolver um cancro. Esta é a conclusão de uma investigação, publicada na última quarta-feira na revista médica JNCI Cancer Spectrum, que se serviu de dados sobre a alimentação de adultos americanos entre 2013 e 2016, retirados do programa de estudos National Health and Nutrition Examination Survey, mas também de dados sobre a incidência de cancro nos EUA em 2015, extraídos dos Centros para Controlo e Prevenção de Doenças.
O estudo sugere que mais de 80 mil casos de cancro diagnosticados nesse ano, nos EUA, em adultos com 20 anos ou mais, se devem a dietas alimentares fracas, número que equivale a cerca de 5,2% de todos os casos de cancros invasivos diagnosticados nesse período.
“Esta percentagem é comparável à percentagem de casos de cancro que se devem ao consumo abusivo de álcool”, explica à CNN Fang Fang Zhang, epidemiologista de nutrição e cancro na Universidade Tufts, em Boston, e autora do estudo.
A investigação teve em conta sete fatores dietéticos – pouca ingestão de vegetais, frutas, grãos integrais e laticíneos e uma alta ingestão de carnes processadas, vermelhas, e de bebidas açucaradas – e deu conta de que um consumo reduzido de grãos integrais está relacionado com o maior número de casos de cancro nos EUA, seguido da baixa ingestão de laticíneos, consumo elevado de carne processada, baixa ingestão de vegetais e frutas, consumo elevado de carne vermelha e consumo também elevado de bebidas açucaradas, como os refrigerantes, por exemplo.
Os investigadores descobriram que 38,3% dos cancros colo-retais se devem a uma alimentação pobre, principalmente quando o consumo de grãos integrais e de produtos lácteos era baixo e a ingestão de carnes processadas era elevada. Outra conclusão da equipa foi que os homens entre 45 e 64 anos e as minorias étnicas tinham a maior percentagem de casos de cancro associados à dieta relativamente aos outros grupos estudados.
“Estudos anteriores demonstram fortes evidências de que um consumo elevado de carne processada aumenta o risco de cancro colo-retal e que uma baixa ingestão de grãos integrais diminui o risco de se desenvolver este cancro”, refere a autora do estudo.
A partir desses estudos, os investigadores adicionaram um modelo comparativo de avaliação de risco, que envolveu uma estimativa do número de casos de cancro relacionados com dietas alimentares fracas, e que ajudou a perceber de que forma essas dietas influenciam o desenvolvimento do cancro nos EUA.
Apesar dos resultados, o estudo tem limitações, como o facto de os dados não esclarecerem como é que a associação entre a alimentação e o risco de cancro muda à medida que as pessoas envelhecem. Contudo, estas descobertas “evidenciam a necessidade melhorar as dietas alimentares, ingerindo mais alimentos e nutrientes essenciais”, explica a autora do estudo.