Um estudo recente mostrou a importância do sono ao fim de semana como forma de complementar a falta dele nos dias de semana. Mas será que é mesmo possível recuperar as horas que se dorme a menos?
Três investigadoras especialistas em sono, uma neurocientista e uma psicóloga falaram sobre a questão no site americano The Conversation e três delas acreditam ser realmente possível recuperar o sono.
Chin Moi Chow, um das investigadoras, respondeu sim, mas com limitações, já que não é possível recuperar o “número exato de horas perdidas”. De acordo com a especialista, “o corpo tem apenas uma forma de lidar com o sono perdido: essa perda aguda faz com que a pressão do sono aumente e não consegamos resistir-lhe. Mergulhamos aí num sono longo e profundo assim que temos portunidade para isso, como nos fins-de-semana”, refere.
Mas como não se consegue recuperar totalmente o número de horas perdidas, certas memórias ficam comprometidas, já que as memórias instáveis são transformadas em memórias estáveis durante o sono profundo. A pesquisadora alerta ainda para os problemas de saúde que a privação crónica de sono podem provocar, que incluem “a diminuição do desempenho no trabalho, distúrbios gastrointestinais e aumento do risco de obesidade, diabetes e doenças cardíacas”.
A neurocientista Leonie Kirszenblat também pensa afirmativamente, desde que a recuperação seja feita a curto prazo. Tal como Chin Moi Chow, a especialista deve essa possibilidade à pressão do sono, que vai provocar “alterações fisiológicas no cérebro” de forma a informá-lo de que precisa de dormir mais.
Mas também fala sobre o impacto negativo da falta de sono na capacidade de formar memórias consistentes, que não vai ser recuperada por se dormir mais ao fim-de-semana. “O sono também ajuda a eliminar proteínas tóxicas associadas a distúrbios neurodegenerativos”, afirma Leonie.
A terceira opinião positiva é da investigadora Siobhan Banks que, tal como as especialistas anteriores, fala sobre a pressão do sono, que faz com que as pessoas não aguentem infinitamente sem dormir. “Mas a nossa capacidade de recuperar o sono em atraso depende do quão cronicamente ficamos privados dele”, afirma. De acordo com a investigadora, quanto mais tempo as pessoas ficarem sem dormir mais difícil será, portanto, a sua recuperação.
Já a investigadora Gemma Paech diz ser impossível recuperar o sono hora por hora e que a privação dele, quando acumulada, afeta a saúde e o bem-estar de forma geral. “Dormir nos fins-de-semana também pode afetar o nosso ritmo circadiano e fazer com que haja aquilo a que chamamos de “jet lag social”, refere a pesquisadora. Ainda assim, diz ser possível evitar os efeitos adversos da falta de sono com um sono consistente e adequado ao longo da semana.
Também a psicóloga Melinda Jackson defende que não é possível recuperar as horas de sono perdidas e que essa falta de sono provoca danos no ritmo circadiano. “Se tentarmos dormir mais tempo no dia seguinte para compensar o sono perdido, vai haver um impacto no nosso ritmo no próximo ciclo de sono”, refere. “O nosso ciclo e sono-vigília é baseado num ritmo de 24 horas; uma vez saltamos para o próximo ciclo, os nossos relógios biológicos fazem um reset”.
De acordo com a psicóloga, o ideal é manter um horário regular de sono e vigília, já que o cérebro tem um mecanismo compensatório interno para a perda de sono e ajusta-o dependendo da necessidade de cada pessoa.