Quando começou a trabalhar na Google, no ano 2000, Chade-Meng Tan ficou com o número 107. Atualmente com dezenas de milhares de funcionários, podemos, por isso, chamar-lhe um autêntico “veterano” da gigante do mundo informático, que ajudou a montar o sistema de pesquisas online em dispositivos móveis. Mas o nome deste engenheiro, atualmente com 47 anos, ficou sobretudo associado a outro serviço: as populares aulas S.I.Y. (de “Search Inside Yourself” ou “procura dentro de ti”) oferecidas pela Google aos seus colaboradores.
Há dois anos fora da empresa, Chade-Meng Tan continuou a dedicar-se ao tema da busca interior pela felicidade. No seu último livro, Joy on Demand, descreve o seu caminho para deixar de se sentir “constamente infeliz” e explica como descobriu que o truque é reformatar a mente. E isto, garante, não implica horas de terapia mas sim simples exercícios mentais, como esste destinado a ajudar as pessoas a reconhecer “fatias finas de alegria”.
À CBS News deu um exemplo: “Neste preciso momento, tenho sede, então vou beber um pouco de água. E quando faço isso, sinto uma pequena fatia de felicidade.” “Não é do tipo ‘Uau’, é mais ‘oh, isto é bom'”, explica no livro.
Chade-Meng Tan nota que normalmente estes eventos são insignificantes – comer quando se tem fome, a sensação de entrar numa sala com ar condicionado num dia de muito calor, o momento em que se recebe uma mensagem há muito esperada. Mas apesar de durarem apenas dois ou três segundos, estes momentos contribuem para a felicidade e quanto mais nos dermos conta disso, mais alegria sentiremos, garante.
A ideia de Tan não vem do nada. A sua teoria tem por base a investigação neurológica sobre a formação dos hábitos, que explica que os hábitos comportamentais são controlados pela região do cérebro que também desempenha um papel no desenvolvimento de memórias e emoções, de forma que quanto melhores somos a fazer alguma coisa, mais fácil se torna repetir essa ação sem grande esforço cognitivo.
O exercício proposto por Tan contém, alega, as três partes necessárias à formação de um hábito: o gatiho (o momento agradável), a rotina (reparar nele) e a recompensa (sentir alegria). O antigo engenheiro realça que pode parecer trivial, mas que o passo de “reparar” é essencial. “Reparar é um pré-requisito de ver. No que não reparamos, não podemos ver”, escreve.
Um estudo publicado no ano passado por psicólogos da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres e da Universidade de Loyola concluiu que os adultos com mais de 55 anos que dizia ter uma melhor capacidade de “saborear” a vida eram os que, mais tarde, relatavam maior satisfação com a vida, independentemente da saúde. Para os menos capazes de dar valor às pequenas coisas, uma doença tornava tudo mais penoso.
Esta capacidade de valorizar os momentos agradáveis, por mais insignificantes que sejam, parece, no entanto, crescer com a idade. Outro estudo, de 2014, descobriu que as pessoas mais velhas conseguem com maior facilidade enumerar momentos quotidianos positivos, enquanto os mais jovens se focam nos momentos extraordinários, como o acabar o curso ou ter o primeiro carro.