“A ideia de que todas as coisas naturais fazem bem é falsa”. O alerta do professor de neurologia e ciências da saúde ocupacional da Universidade de Saúde e Ciência de Oregon, EUA, é citado pela CNN a propósito de várias frutas e vegetais que escondem potenciais perigos para a saúde. “Muitas plantas não estão aí para nosso benefício, mas se protegerem dos predadores”, explica ainda Peter Spencer.
Vamos aos exemplos:
Líchias
A aparência do pequeno fruto, com uma casca com picos – que funciona como dissuasor para alguns animais mas não para o homem – , não deixa adivinhar o interior consistente, suculento e doce. Nem o perigo que represente para a saúde, se consumido antes de estar maduro. Se comidas demasiado cedo, sobretudo por alguém que esteja em jejum há muito tempo ou por uma criança mal nutrida, as líchias podem tornar-se fatais.
Um exemplo dessa potencial toxicidade é o que acontece na Índia: todos os anos, centenas de crianças são hospitalizadas com febre e convulsões, com um relatório recente a avançar que na origem destes episódios estão, provavelmente, as toxinas presentes nas líchias verdes. Combinadas com a falta de açúcar no sangue ou má nutrição, estas toxinas podem levar a uma baixa ainda mais acentuada no açúcar no sangue, ou hipoglicémia, uma vez que bloqueiam a produção de açúcar pelo organismo. Isto pode tornar-se particularmente perigoso durante o sono e levar mesmo a uma encefalopatia.
Mandioca
Muito popular em África, América do Sul e partes da Ásia, onde é a terceira fonte calórica mais importante (logo a seguir ao milho e ao arroz) , a mandioca alimenta diariamente mais de 600 milhões de pessoas em todo o mundo, segundo dados do Banco Mundial.
É deliciosa frita, assada ou simplesmente cozida, assim como tranformada em farinha com inúmeras aplicações culinárias.
Mas se não for processada corretamente, a mandioca pode ser venenosa, graças ao cianeto de hidrogénio da sua composição. Comer esta raiz crua ou sem ser processada (para eliminar as toxinas), implica ingerir o cianeto e metabolizá-lo, o que, por sua vez, afeta a tiroide e danifica as células nervosas cerebrais responsáveis pelo movimento. As toxinas da mandioca podem até, segundo o Instituto Nacional de Saúde americano, provocar uma paralisia súbida e… irreversível.
Carambola
Originária da Ásia, a carambola deve o nome à sua forma particular (em inglês é starfruit, fruta-estrela numa tradução literal) e é usada como medicamento natural para várias doenças em algumas países tropicais. Mas contém toxinas que afetam o cérebro e podem provocar distúrbios neurológicos. Estas toxinas representam um risco considerável sobretudo para pessoas com problemas renais, uma vez que, em pessoas saudáveis, são processadas e removidas naturalmente.
Os sintomas de envenenamento pelo consumo de carambolas incluem soluços, confusão e convulsões.
Cana de açúcar
Aqui o problema está nos fungos das canas de açúcar que já têm muito tempo e são consumidas meses depois de apanhadas ou estão bolorentas.
“Se ingerido por uma criança, esse fungo pode provocar a morte ou uma doença neurológica crónica”, alerta Spencer, sublinhando que a toxicidade afeta todas as idades, embora as vítimas mais comuns sejam crianças e jovens. Vómitos, convulsões, espasmos e coma são, segundo a Organização Mundial de Saúde, alguns dos sintomas do envenenamento com as toxinas produzidas pelo fungo da cana de açúcar.
Batatas
A solanina está presente de forma natural em várias plantas, mas aparece em maior quantidade no tomate, pimento e batata, entre outros. É tóxica e pode provocar sintomas como vómitos, dores de estômago, alucinações e até paralisia.
Nas batatas, o maior perigo existe quando estão verdes ou estragadas e nos rebentos.
Feijão encarnado
Muitas espécies de feijão contém a toxina fitohemaglutinina, mas as concentrações são particularmente elevadas no feijão encarnado cru. Os níveis baixam significativamente quando cozido, mas apenas quatro ou cinco crus são suficientes para provocar sintomas, segundo a Food and Drug Administration americana. Apenas uma a três horas após o consumo, as pessoas podem ficar com náuseas, vómitos e diarreia e, pouco depois, dores de estômago. Apesar de a recuperação ser, normalmente, bastante rápida, há casos que necessitam hospitalização.