Que o nosso cérebro não é de fiar e faz coisas extraordinárias, já sabíamos – recorde-se, por exemplo, Cmoo é que o crberéo cnosgeue ler etsa farse? Mas um novo estudo descobriu mais uma característica curiosa: o cérebro prefere as imagens que cria para preencher espaços em branco, os chamados “pontos cegos” (que se devem a uma espécie de ângulo morto no nosso campo de visão) à própria realidade.
A investigação, da Universidade de Osnabrück, na Alemanha, revela que quando o cérebro tem de escolher entre dois objetos visuais idênticos – um “inventado” e outro real – é surpreendentemente mais provável optar pelo que criou internamente.
Para conseguir que o mundo à sua volta faça sentido, homens e animais combinam informação de várias fontes, privilegiando, normalmente, a mais fiável. Por exemplo, se para atravessar uma estrada confiamos mais no que vemos, num dia de nevoeiro cerrado isso pode mudar e passarmos a ter mais em conta o que ouvimos.
Na imagem acima, há 12 pontos pretos. No entanto, o nosso cérebro não nos permite vê-los a todos ao mesmo tempo, porque assume que a maioria é cinzenta (confira outras ilusões de ótica no vídeo no final do texto).
Embora na maioria das situações, o preenchimento da informação em falta que o cérebro faz seja correto, não é completamente fiável.
Benedikt Ehinger e Peter König, respetivamente autor e co-autor do estudo, e a sua equipa pediram aos participantes no estudo para escolher entre duas imagens com riscas, através de uns óculos especiais. Cada imagem era exibida completa ou parcialmente fora do ponto cego. Em ambos os casos as imagens eram vistas como “idênticas” e “contínuas” graças ao tal efeito de preenchimento. Chamados a escolher a que acreditavam ser real, os participantes mostraram tendência para escolher aquela que o seu cérebro tinha construído.
O pontos cegos da visão humana correspondem a uma pequena área da retina na qual não há bastonetes ou cones, as células sensíveis à luz que são fotorreceptoras. É nesta área que fibras nervosas saem da retina para passar para o nervo óptico e dar a informação ao cérebro. Normalmente nem damos pela existência destes pontos cegos, porque cada olho preenche a informação que falta ao outro.
Quando parte da visão está obstruída, o cérebro inventa o que falta, assumindo que o que quer que exista nas imediações do ponto cego existe também nesse espaço.