Evelyne Martello é enfermeira clínica e trabalha há quase 10 anos na Clínica do Sono do Hospital Rivére-Des-Prairies, em Montreal, no Canadá. Em Finalmente durmo… E os meus pais também, a autora propõe várias medidas para consolidar a rotina do sono e ajudar a criança a adormecer sozinha. Aqui publicamos um excerto, acompanhado de parte do prefácio assinado por Céline Belhumeur, pediatra do desenvolvimento e especialista em perturbações do sono:
“Atualmente, são muitas as crianças que apresentam uma perturbação do sono. Aos olhos dos seus pais, todas as outras do seu círculo mais próximo dormem pacificamente à noite… Nada de mais normal, pois a noite existe para dormir!
Porém, aproximadamente uma em cada cinco consultas de pediatria são solicitadas por pais cujos filhos apresentam um problema de sono. E apesar da sua aparência benigna, as questões do sono estão frequentemente na origem de uma grande angústia familiar. A falta de sono afeta o funcionamento quotidiano dos filhos e tem influência nas suas aprendizagens. A fadiga excessiva dos pais resulta em conflitos conjugais, tensões familiares, absentismo, problemas escolares e perturbações psicológicas… situações sujo impacto pode ser significativo.
Céline Belhumeur
Estado da situação
As perturbações do sono são frequentes em crianças pequenas, e ainda mais nos bebés. Cerca de 25 a 30% das crianças apresentam problemas de sono e esta percentagem é ainda mais elevada nas crianças com uma patologia associada. Notamos, em particular, os seguintes factos:
• os problemas de sono são particularmente frequentes nas crianças com menos de 5 anos;
• um bebé de 8 meses que apresenta problemas de sono continuará a tê-las até aos 3 anos se nada for feito;
• uma criança de 2 anos com perturbações do sono continuará a tê-las até aos 5 anos se nada for feito;
• entre os 4 ou 6 meses e os 3 anos de idade, as crianças manifestam problemas de associação ou têm maus hábitos. Por exemplo, mamar ao deitar pode conduzir a despertares noturnos e à vontade de voltar a mamar durante a noite até aos 3 anos de idade se a questão não for resolvida;
• é mais fácil resolver os problemas de sono assim que eles surgem, idealmente antes dos 12 meses de idade;
• entre os 18 meses e os 2 anos e meio é mais difícil resolver os problemas, embora não seja impossível;
• entre os 2 anos e meio e os 5 anos, a criança compreende muito melhor as regras e os pais podem conseguir, sem grande dificuldade, melhorar os seus hábitos de sono;
• a resistência ao deitar e os despertares noturnos prolongados são mais frequentes até aos 2 anos. O medo da noite e os pesadelos surgem geralmente por volta dos 18-24 meses;
• mais de 50% das crianças têm pesadelos entre os 3 e os 6 anos de idade. Os despertares noturnos são menos prolongados neste grupo etário, mas a criança tem mais tendência para se levantar e ir ter à cama dos pais; esta fase deve ser passageira;
• cerca de 15% das crianças têm pelo menos um episódio de sonambulismo na sua vida e apenas 6% têm episódios de sonambulismo regularmente;
• cerca de 6% das crianças têm terrores noturnos e a proporção é mais elevada entre os rapazes;
• cerca de 5 a 20% das crianças rangem os dentes (bruxismo) durante a noite, mas existem poucos tratamentos para corrigir este problema. Ele pode ser controlado com uma boa higiene do sono e existem soluções para evitar eventuais complicações dentárias;
• as crianças pequenas que oferecem resistência ao deitar ou as mais crescidas que se deitam tarde à noite e se levantam tarde de manhã sofrem um atraso das fases de sono que resulta de uma alteração do relógio biológico. Isto é muito frequente nos adolescentes, pois a sua vida social e diversos fatores psicológicos e ambientais interferem com a sua higiene do sono.
O tempo médio de sono em função da idade:
1 semana – 17 horas
1 mês – 15 horas
3 meses – 14 horas
6 meses – 15 horas
1 ano – 13 horas
3-5 anos – 12 horas
10-12 anos – 10 horas
Adulto – 8 horas
Existem, por outro lado, outros problemas que podem surgir quando os pais têm expectativas inadequadas em relação ao sono do seu filho. Pode acontecer, por exemplo, que uma criança que tenha feito uma sesta de duas horas à tarde manifeste uma certa resistência ao deitar e demore a adormecer se os pais a tentarem deitar demasiado cedo nessa noite. A questão pode ser facilmente evitada, reduzindo a duração da sesta ou deitando a criança um pouco mais tarde. É preciso também estar atento às necessidades de sono, pois elas variam em função da idade.”
Finalmente durmo… E os meus pais também, Evelyne Martello, Multinova