Fred, o Estranhão, é um rapaz de 11 anos, com um Q.I. acima da média, que conta a sua estranha vida (a família, a escola, os amigos, os amores), com palavras e desenhos, enquanto reflete sobre tudo o que o rodeia. O seu grande desafio é viver uma vida normal, sem sobressaltos, e chega a fingir que é estúpido para não ser incomodado pelos que fingem ser inteligentes. Mas isso não é tarefa fácil para um Estranhão. Pois não?
Livro nomeado para o 2.º ciclo
À conversa com Álvaro Magalhães
Recebemos dezenas de perg untas pa ra a primei ra entrevista de Conheço um escritor. Três leitores foram escolhidos para fazer a entrevista e colocarem todas as questões recebidas na nossa redacção
Erika Almeida, Vila Viçosa
Porque é que decidiu ser escritor?
Ninguém queria que fosse escritor na minha família. Até diziam: «Como é que ele vai ganhar a vida?» Antes queriam que fosse engenheiro, médico… Mas não fui eu que escolhi.
Nasceu comigo.
6.º C, Escola EB 2,3/S de Caminha, Vilarelho
Foi difícil publicar o seu primeiro livro?
O meu primeiro livro para crianças foi para a minha filha que tinha 6 anos.
Depois, concorri a um prémio e ganhei-o. Era da Associação Portuguesa de Escritores. Ganhei esse prémio nos primeiros cinco anos.
Até acabaram com ele porque era sempre eu que o ganhava [risos]! Como eram livros premiados nunca tinha dificuldade em publicar.
Tinha uma pessoa que gostava muito dos meus livros, era a escritora Ilse Losa, que já morreu. Ela começou a publicá-los na ASA e praticamente obrigava-me a escrever para crianças. Na altura tinha escrito livros de poesia, pensava que iria ser poeta.
Quando escreve deixa-se influenciar pelas opiniões dos seus leitores?
Não. Quando escrevia o Triângulo Jota recebia muitas cartas.
Pediam para o Gil se encontrar com a Joana.
Nunca lhes fiz a vontade.
Sei que tenho muitos leitores, mas se não tivesse nenhum escrevia na mesma porque o meu compromisso é com a literatura.
Tem medo que os leitores não gostem do que escreve?
Quando um livro acaba ficamos inquietos porque não sabemos o que lhe vai acontecer. Não há medo, acho que é uma dúvida. É aquilo que as mães sentem quando um filho sai de casa pela primeira vez.
Inês Teixeira, Santo André
Como é o seu dia-a–dia?
Acordo ao meio dia [risos]. Conheces alguma outra profissão onde possas acordar à hora que queres, não tens patrão, não tens colegas, não tens horários? Acordo tarde, faço uma refeição, vou ler jornais, e começo a trabalhar por volta das três. Durante a tarde, respondo a telefonemas, contactos. A vida de um escritor não é só escrever.
Às vezes, dava jeito ter uma secretária para tratar de assuntos burocráticos.
Depois de jantar começo a escrever a sério. Quando a minha mulher vai dormir e o telefone deixa de tocar é que é bom. Fico sozinho só com os três gatos e a Lua. Hoje, por exemplo, vai ser óptimo porque é Lua cheia e tenho sempre a ideia que escrevo melhor e mais.
Alunos do 5.º A, da Escola Básica e Secundária de Arga e Lima
Escreveu Maldita Matemática. Gosta de matemática?
Nunca gostei de matemática, por isso é que escrevi o livro. Sofria muito quando era miúdo, tinha muito boas notas a Português e muito más a Matemática. Tinha dificuldade em compreender, sou muito distraído e não me concentrava. Ainda hoje não sei fazer coisas primárias como conversões de euros.
Ana Marta Santa Dias
Se pudesse entrar numa das suas histórias, em qual seria?
Há muitas histórias minhas onde eu estou. No Triângulo Jota posso encontrar lá o Joel, no Hipopoóptimos o rapaz tímido, envergonhado, o Guarda-redes míope de O Brincador. Estou nos meus livros todos.
Alunos do 1.º Ano da EB1 de Sever do Vouga
Na história Joaninha, diz «(.) todas as crianças têm asas, embora não se saiba.» Quando era criança também tinha asas?
É uma metáfora.
Quer dizer que as crianças têm capacidade de imaginar, sonhar muito mais do que os adultos.
Alunos do 8.º B/F e A, Escola Pedro Jacques de Magalhães, Alverca
O que é que ainda lhe falta fazer?
Ora aí está uma pergunta a que não consigo responder… Faltame talvez escrever um livro que seja tão irresistível que dê a volta ao mundo!
A nível pessoal, qual a pessoa que mais admira?
O meu avô porque era uma pessoa muito bondosa, pensava pouco nele e passava a vida a ajudar os outros.
Qual a memória mais forte que tem da sua infância?
Talvez aos 14 anos, estar a sofrer muito para escrever um poema. E, no fim de ter escrito, pensar: «Será que já é poesia?»
Alunos 6.º Ano, Agrupamento de Escolas de Arronches
Qual é o seu livro preferido?
Podemos querer fazer um poema e não conseguir, é preciso esperar que a poesia venha ter connosco. Por isso, talvez escolhesse O Brincador, que reúne os meus poemas todos.
João Pedro Rodrigues, 3.º Ano, Centro Escolar Prof. José Pinheiro Gonçalves
Como definiria a poesia a uma criança de 8 anos?
A própria palavra criança, porque as crianças são poetas mesmo quando não sabem.
Rafael, Manuel e Inês, EB João de Barros, Viseu
Já pensou em desistir de escrever?
Vou escrever sempre.
É um trabalho que nunca cansa. Sabes porquê? Porque gosto de o fazer, é isso é uma sorte.
Álvaro Magalhães, 59 anos, autor de êxitos como Triângulo Jota, O Limpa-Palavras e outros Poemas ou O Brincador, é o primeiro autor da iniciativa Conheço um escritor, promovida pela VISÃO Júnior, em parceria com o Plano Nacional de Leitura e com a Rede de Bibliotecas Escolares.
Na visita a sua casa e na companhia dos seus três gatos (Pandora, Lucas e Micha), o escritor anunciou várias novidades: até ao fim do ano serão publicados mais seis livros da série Crónicas do Vampiro Valentim (no total serão 12) e, em Abril, começará a publicar uma nova série de livros, intitulada Lucas Scarpone, aventuras de um gato que vive num mundo de gatos evoluídos.
Texto: Florbela Alves
In VISÃO Júnior, terça 1 de Fev de 2011