Quando saiu Uma Verdade Inconveniente, em 2006, parecia que os EUA tinham batido no fundo. George W. Bush, o presidente de então, retirara o país do Protocolo de Quioto e recusava-se a implementar medidas profundas de combate às alterações climáticas. Não que negasse o fenómeno – apenas argumentava que o preço económico era demasiado alto. Em alternativa, anunciou um plano a médio prazo de redução de intensidade carbónica (a relação entre as emissões de gases com efeito de estufa e a criação de riqueza), o que significava produzir mais poluindo menos. Um pequeno passo para o Homem, mas pelo menos dado na direção certa.
Passados onze anos, o presidente chama-se Donald Trump. Este sim, um orgulhoso negacionista das alterações climáticas, que não só alardeou o abandono do Acordo de Paris (o herdeiro do Protocolo de Quioto) como diz acreditar que o fenómeno é uma invenção dos chineses para ferir a economia americana. Um enorme salto para trás.
E é neste momento de repetição – caricatural – da História que Al Gore volta a atacar. A 28 de julho, estreou mundialmente An Inconvenient Sequel: Truth to Power (Uma Sequela Inconveniente: Verdade para o Poder, numa tradução livre, já que o filme não vai ter distribuição comercial em Portugal). Um documentário que chega quando é mais preciso (foi adiado para incluir a polémica decisão de Trump sobre Paris), ainda que dificilmente venha a ter o impacto do seu antecessor.
“O primeiro filme foi um contributo enorme”, diz Francisco Ferreira, presidente da associação ambientalista ZERO e um dos quatro portugueses que integram o Climate Reality Project, a organização não governamental fundada por Al Gore. “Na altura, as alterações climáticas não estavam ainda a ser compreendidas pela população e pela classe política. Uma Verdade Inconveniente veio marcar a agenda, ao conseguir explicar o problema de uma forma clara.”
O filme – que consiste, em grande parte, no ex-vice-presidente dos EUA de pé, num palco, a mostrar uma série de gráficos num ecrã gigante – foi um surpreendente sucesso de bilheteiras e da crítica. E, além de ter vencido o oscar para Melhor Documentário, ajudou Al Gore a ganhar o Prémio Nobel da Paz de 2007, ex aequo com o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas.
À época, a ciência por trás do documentário era, na sua essência, inatacável. Nem tudo, porém, foi confirmado pelo tempo. Investigações mais modernas afinaram o conhecimento sobre o clima. Mas podemos dizer hoje que, quando muito, e salvo raras exceções, Al Gore, esse arauto da desgraça, pecou por excesso de otimismo.
Leia o artigo na íntegra na VISÃO 1272 de 20 de julho