Depois de uma edição (a nº 35, de maio) dedicada à situação política que pôs fim à I República em Portugal e à instauração da ditadura, a VISÃO História regressa aos Anos 20, desta vez para prolongar noutras áreas – da moda aos costumes e ao fait-divers – a força inovadora de uma década prodigiosa. A arquitetura ganhou linhas retas, a música e a dança «enlouqueceram», as saias subiram, os cabelos encurtaram, os aviões banalizaram-se, a literatura reinventou-se, o futebol entrou no dia-a-dia, o cinema começou a falar…
Com efeito, se os contornos materiais do nosso quotidiano foram sendo traçados ao longo das quatro décadas que vão de 1890 a 1930, foi depois da I Guerra Mundial que a «vida moderna» como a entendemos deu os seus primeiros – mas já firmes – passos. Os anúncios que reproduzimos em muitas páginas são retirados da revista semanal ABC, o magazine português mais representativo da época.
Mas a festa que se seguia ao pesadelo da Grande Guerra duraria, pouco tempo. No horizonte divisavam-se já as sombras de novas tormentas.
Imagens
Infografia: as grandes cidades do mundo
Cronologia: a década louca
O tempo das ilusões
Saídos exaustos, em 1918, da absurda e traumática I Guerra Mundial, os europeus e os norte-americanos mergulharam, na década de 1920, numa euforia de notório progresso material, consumismo e inconsciência. Foram os Roaring Twenties, as Années Folles – os «Loucos Anos 20». Por Luís Almeida Martins
As mulheres preferem o‘chic’
Ao mesmo tempo que cortava o comprimento do cabelo, a altura das saias e o tamanho das abas dos chapéus, a moda cortou também as amarras às mulheres. Por Cláudia Lobo
Os anos loucos tinham filmes nos olhos
Embora já existente há duas décadas, arte e a linguagem das salas escuras atingiram a maturidade nos Anos 20. Por Manuel S. Fonseca
A primeira Miss Portugal
hamava-se Margarida Bastos Ferreira e representou o País em 1927 no concurso de Miss Universo, em Galveston, no Texas. O júri americano não lhe deu o prémio a que muitos a julgavam com direito. Por Liliana Lopes Monteiro
Veva de Lima, a anfitriã de Lisboa
Os salões das famílias abastadas, com as suas tertúlias de tipo vário, eram um cenário comum na Lisboa dos Anos 20. Mas nenhum deixou memória mais viva do que o de Veva de Lima. Por Emília Caetano
No coração do Art Déco
Festivo, feito de linhas retas, a tender para o abstracionismo, o estilo mundialmente lançado em Paris na Exposição de Artes Decorativas e Industriais Modernas de 1925 deixou marcas em Portugal. Por Rui Afonso Santos
A década louca de Almada Negreiros
Paris, Lisboa e Madrid são as capitais onde José de Almada Negreiros procura a vanguarda essencial a quem se diz «sempre futuro». Escreve o seu único romance, Nome de Guerra, em 1925, um marco na literatura portuguesa que é uma porta de entrada para a agitação da época. Por Vânia Maia
A revolução do jazz
Nascido nos bairros de má fama de Nova Orleães, nada faria supor que o jazz viesse a ter impacto mundial, elevando a música popular a um inédito patamar de excelência. Os Anos 20 foram o ponto de charneira. Por João Moreira dos Santos
Como se dança o charleston
O som das noites de Lisboa
O jazz chegou a Portugal nos Anos 20, mas não teve vida fácil na capital do fado. Restou-lhe o ambiente transgressivo dos clubs, sequiosos de excentricidade. Por João Moreira dos Santos
Os anos da ‘maldita’
Lisboa dançava nos clubs noturnos entre nuvens de fumo. De substâncias várias, mas que não davam prisão, só má fama. Por muito tempo, nenhumas foram declaradas ilícitas. Por Emília Caetano
António Ferro, cronista dos tempos modernos
Antes de ser o mestre da propaganda do Estado Novo, António Ferro deixou-se contaminar pela loucura dos Anos 20, com o jazz e o cinema à cabeça, e ligou-se ao movimento modernista, produzindo textos que lhe valeram a censura da República. Por Vânia Maia
A grande burla de Alves dos Reis
O maior falsificador de todos os tempos acreditava que só havia uma maneira de enriquecer: emitindo dinheiro. Foi o que fez. História de um burlão que enganou o Banco de Portugal e que confiou quase até ao fim na sua «boa estrela». Por Clara Teixeira
Dinheiro louco
Para combater a inflação, imprimia-se dinheiro de forma descontrolada, à revelia dos governos e do Parlamento. As «emissões surdas» de moeda e os talões e os vales de trocos tomavam o País de assalto. Por Clara Teixeira
Infografia: Portugal em números
Na década em que os casamentos diminuíram e os divórcios aumentaram, ainda eram muito poucas as mulheres na universidade
O glamour da aviação comercial
Foi na década de 1920 que a espécie humana adquiriu asas como os pássaros, ou seja, começou a deslocar-se pelos ares tanto quanto possível tranquilamente e de forma «natural»… Até então, as experiências pioneiras mais não tinham sido do que loucuras de alto risco. Por Luís Almeida Martins
Os voos Lisboa-Madrid e as aventuras dos aviadores
Ir ao campo de aviação de Alverca ver o novo – e perigoso –transporte levantar voo para Madrid chegou a ser «programa» da sociedade lisboeta no final dos Anos 20. Por pouco tempo… Por Luís Almeida Martins
De automóvel, a cem à hora
Na década de 1920, o número de automóveis em Portugal quase quadruplicou. Com a revolução nas comunicações nasciam também um estilo de vida e um estatuto novos. Por Humberto Brito
Grandes inovações
No dia-a-dia, muitos aspetos dos «tempos modernos» começaram nos Anos 20. Apesar de algo estranhos, estes aparelhos anunciavam uma autêntica revolução no quotidiano das classes médias e altas
A primeira Volta a Portugal em bicicleta
Foi organizada em 1927 pelos jornais Diário de Notícias e Os Sports. Com ciclistas pouco preparados, coices de mula, mordidelas de cão e caminhos por onde foi preciso levar a bicicleta às costas, suscitou enorme entusiasmo popular. Por João Pacheco
A loucura do futebol
Tudo começou nos Jogos Olímpicos de 1928. Mal instalados e habituados a jogar em pelados, os jogadores portugueses acabariam, mesmo assim, por obter esplendor na relva. Por João Pacheco
Cinco livros que marcaram a década
Guerra, crise, psicanálise e feminismo – a literatura dos Anos 20 adianta-se às contradições e emancipações da época. Por Isabel Nery
Cartoon: penteados