Logo de manhã, no briefing para a imprensa, recebemos dois avisos: não ‘incomodar’ os VIPs fora das horas reservadas para entrevistas e não fotografá-los a comer. Ri-me para dentro e lembrei-me do que me contara, há tempos, um cozinheiro da Casa Real Inglesa: a comida da rainha vai toda cortada para a mesa, para que a soberana não seja apanhada em poses menos elegantes. E sim, também me lembrei de um episódio grotesco que envolveu o atual presidente da república, Cavaco Silva, e bolo rei.
O protocolo mandava que a cerimónia começasse às 11h30. Mas o presidente da República do Chile, Sebastián Piñera, só chegou uma hora depois. A pontualidade não é o forte dos chilenos – talvez seja (também) por isso que me sinto tão em casa no Chile.
Enquanto esperávamos a chegada de Piñera, demos – os quatro jornalistas portugueses presentes na cerimónia- com o ministro da Ciência de Portugal, Nuno Crato, que veio vestido a rigor. Não pelo fato cinzento, igual ao de tantas outras figuras de estado. Mas pela gravata azul, decorada com as constelações. Ainda hesitámos na aproximação. Mas fomos imediatamente liberados de formalismos. A mais de dez mil quilómetros de casa e a três mil metros de altitude, até as relações entre políticos e jornalistas se tornam mais suaves.
“É muito emocionante”, diz Nuno Crato, no final da cerimónia, enquanto um operador manejava com um joystick uma antena de 100 toneladas. Palavras de antigo divulgador de ciência e apaixonado pela astronomia, penso.