Passos Coelho apresentou-se mais direto, mais irónico e mais preparado do que no primeiro debate. Menos diplomático, mais agressivo e com instinto matador. António Costa geriu a vantagem, sem correr riscos. Esteve bem, mas não brilhante. Contas feitas, terá faltado a Passos a vitória clara que concretizasse a segunda oportunidade de causar uma boa primeira impressão. Mas, ao menos, deu tudo o que tinha…
Sem me decidir por uma vitória clara, escrevi, aqui, que a sanguinidade e agressividade de Costa, no primeiro debate, terá sido mais eficaz. As reações gerais, no pós-debate, deram-lhe a vitória, o que confirma a ideia. A questão é saber se o debate, de per si, iria alterar uma quantidade significativa, ou, até, decisiva, de votos a favor do suposto vencedor. A resposta era “não”. No entanto, toda a dinâmica gerada por esse debate instalara a depressão na coligação e a euforia no PS, o que teria consequências na campanha. E a resposta passava a ser “sim”.
As manifestações dos lesados do BES e o fiasco da venda do Novo Banco foram as duas restantes pontas do tridente que fizeram, desta, uma semana horribilis para a PàF. De um ascendente claro, sugerido pelas últimas sondagens, PSD e CDS viam-se, repentinamente, mergulhados, de novo, na incerteza. O PS, pelo seu lado, cavalgava a onda.
E a questão, agora, é: serviu este segundo debate para que Passos Coelho invertesse, de novo, a situação? Terá servido, pelo menos, para controlar os danos. Claramente, os spin doctors do PSD vasculharam o programa do PS à procura de uma falha clara que toda a gente entendesse. E encontraram-na. Como sempre, o diabo estava nos detalhes.
A quebra da TSU e o alegado buraco da proposta socialista para a segurança social era um tema de difícil compreensão, além de muito batido. Mas eis que havia ali uma medida que prometia uma poupança mil milhões nas prestações sociais, mediante uma misteriosa “condição de recurso”. Mas como? Os socialistas vão poupar mil milhões nas prestações sociais? Então, onde vão cortar? “Aperta com ele!”, terão os assessores exortado Passos.
Com este trunfo bem escondido na manga, Passos Coelho encostou, momentaneamente, António Costa às cordas. O líder socialista perdeu-se num labirinto de rodeios técnicos até que os árbitros do debate (uma palavra de apreço para a exemplar moderação de Graça Franco, Maria de Flor Pedroso e Paulo Baldaia…) tiveram de decidir, com Passos Coelho, que António Costa não esclarecia a questão. Costa empurrou essa matéria para a concertação social. Mas se depende da concertação social, como é que garante, à partida, que são exatamente mil milhões o montante que vai poupar?…
Este ataque de Passos Coelho, que resultou depois de outros falharem (como a comparação entre PS e o Syriza, que não é credível e Costa desmontou, ou as questões relacionadas com a Câmara de Lisboa, trazidas a despropóstio) não terá chegado para ganhar o debate. Mas serviu, ao menos, para que não o perdesse. O que já não foi pouco.
Infelizmente para a coligação, talvez não vá a tempo de desfazer a primeira impressão. Tanto mais, que a audiência deste debate será incomparavelmente menor à do primeiro. Deste ponto de vista, António Costa parte com vantagem para a campanha eleitoral. No dia 4 de outubro, o eleitorado dir-nos-á quem ganhou os debates. Ou se eles serviram para mudar o que quer que fosse.