Esta devia ser a semana de Bruno Maçães, a semana em que o prodigioso ex-secretário de Estado dos Assuntos Europeus de Pedro Passos Coelho passou oficialmente de adiantado mental a atrasado virtual, depois de uma jornalista norte-americana ter afirmado no Twitter que o pequeno Bruno a presenteara generosamente com um considerável lote de “dick pics”, sugerindo assim que o seu nome deveria ser acrescentado à infindável lista das pobres vítimas de assédio que nas últimas semanas têm partilhado com o mundo segredos que tristemente guardavam na gaveta há décadas. Veio entretanto a saber-se que afinal a donzela não era tão pura como sugeria e que – imagine-se! – até terá contribuído para que os índices de benevolência e desapego de Bruno Maçães se tenham erguido, passe a expressão, a níveis proibitivos.
Talvez ninguém tenha ensinado a Maçães na Universidade de Harvard, onde se doutorou em ciência política, que há pelo menos duas coisas que um ex-membro de um qualquer Governo não deve fazer. Uma é voltar ao Governo. A outra é utilizar as redes sociais como um prolongamento do seu pénis. É certo que Bruno pode argumentar que a exibição fálica é uma prática milenar. No Antigo Egipto os homens desfilavam em barcos, mostrando as partes íntimas às mulheres na esperança de que uma delas se lançasse à água e nadasse na sua direcção. Mas nem o Twitter é o Egipto nem Maçães é Tutankamon.
Para a história fica, de qualquer modo, a imagem de um homem consequente nos desejos e proactivo nas decisões, qualidades que distinguem os políticos de excepção. Felizmente para a nação, o Governo socialista também tem o seu Maçães: chama-se Tiago Brandão Rodrigues, doutorou-se em Cambridge, é ministro dos professores, perdão, da Educação, e tem-se distinguido, desde que tomou posse, pela generosidade extrema que exibe na relação com um honradíssimo sindicalista.
A última benesse com que Brandão Rodrigues decidiu premiar Mário Nogueira – é dele que estou a falar – foi o descongelamento da carreira docente. Custo da medida? Cerca de 600 milhões de euros. Seiscentos milhões para agradar a um homem que se diz professor mas que é, na prática, um profissional da greve que há mais de 20 anos não entra numa sala de aulas. Só entre 2005 e 2009, o líder da FENPROF organizou 25 protestos. Maria de Lurdes Rodrigues, a ministra de então, não era conhecida por ser especialmente simpática com sindicalistas. Durante a vigência deste governo, a sua actividade registada é mais discreta. Mérito para Brandão Rodrigues, que tudo tem feito para mimar o camarada Nogueira.
Nesta fase dos acontecimentos, parece-me justo dizer duas ou três coisas – ou, vá lá, umas cinco:
1) que Mário Nogueira é um dos ícones mais visíveis de um Portugal que cristalizou em 1975 e cujo sonho molhado é o regresso a um tempo de muito estatismo e pouca exigência, de muita ignorância e escassa informação;
2) que Mário Nogueira não é a imagem de todos os professores, mas é a imagem de uma grande parte deles, mais interessados em promoções administrativas do que na progressão cimentada no mérito e bem mais concentrados no seu umbigo do que no interesse dos alunos – que, entre outras coisas, sobrecarregam com trabalhos de casa, como se não fosse a escola o espaço vital de aprendizagem;
3) que a visível melhoria dos resultados académicos dos jovens portugueses, comprovada por testes internacionais como o PISA, se verificou não por causa de Mário Nogueira, mas apesar de Mário Nogueira;
4) que fazer política a reboque dos sindicatos não é apenas uma prova de fraqueza – é uma demonstração de irresponsabilidade por parte de Brandão Rodrigues que todos pagaremos no futuro;
5) finalmente, que ao aceitar integrar o Governo, o ministro da Educação cometeu um lamentável equívoco. Governar é decidir em benefício do bem comum, não é ser o porta-chaves de um qualquer sindicalista anquilosado nas ideias e desconcertado nas acções. Alguém o devia explicar a Brandão Rodrigues, uma vez que tudo indica que a política é uma ciência que ele manifestamente desconhece.