Todos os anos há maluquinhos que preveem o fim do mundo. E digo maluquinhos com todo o carinho, que a atividade de profetizar ainda deve causar algum transtorno. Houve então uma qualquer seita que voltou a vaticinar o final do mundo, desta feita para 31 de outubro de 2016. Ora, obviamente, tal não aconteceu, estamos cá todos, vivos e frescos, prontos para uma nova semana. E porquê, perguntam vocês? Eu respondo: porque isto tinha tudo para correr mal, e passo a explicar. Será só a ideia mais imbecil de sempre o mundo acabar a uma segunda-feira de ponte. Não se termina a existência de ninguém antes de um feriado, santa paciência. Quando muito, trata-se do assunto no dia útil seguinte, em que as pessoas já estão mais descansadas e com outra disposição para falecer.
Ainda assim, julgo ser necessário, para uma próxima ameaça de fim de mundo, elencar algumas das atividades pré-Apocalipse que, julgo, será imprescindível levar a cabo antes de irmos ao encontro do Criador:
– tirar a roupa da corda, porque diz que a Hecatombe costuma envolver bolas de fogo e afins, e isso é coisa para nos esturricar as farpelas;
– ter o cuidado de desligar o quadro elétrico e o gás, pois todos sabemos como é esta malta dos seguros, que depois vem alegar que foi negligência nossa para não assumir as responsabilidades;
– aproveitar para dar tréguas às traças que possuímos em casa, a bem do avanço da Ciência: não as esborrachemos à vassourada para descobrirmos se têm a mesma resistência das baratas, que até agora são as únicas que se sabe resistirão ao Juízo Final;
– esta será a minha favorita: aproveitemos para enfardar chocolates, gelados e grão com mão de vaca como se não houvesse amanhã (e não me lembro de uma melhor utilização para esta expressão);
– fazer uma limpeza ao frigorífico e deitar fora aqueles coentros já pretos e gosmentos, bem como os limões com verdete, porque não queremos que o resto dos participantes no cataclismo perceba o nosso nível de desleixo;
– o mesmo se passa com as camas: pelo menos nesse dia ter o cuidado de as fazer;
Por último, um parágrafo inteirinho dedicado ao que, a meu ver, é o mais importante: envergar roupa interior em condições. Aqui vale o mesmo princípio que as nossas avós advogavam, não fossemos nós ter um acidente, ir para o hospital e passarmos pela vergonha de nos apresentarmos de cuecas badalhocas e rotas. Assim, juntemo-nos, pois, e dêmos nova vida à expressão “Fim do mundo em cuecas”.