Aquilo a que se chama, com uma elegância que procura dissimular a indiferença, a situação grega, está a causar um fim de férias frenético, para alguns. Nos últimos dias, tem havido uma sucessão de reuniões bilaterais, em Berlim, Paris, Atenas e Roma. Tudo começou com um pedido vindo do primeiro-ministro Samaras, a solicitar mais tempo, uma prorrogação de dois anos, para esbater o impacto social das medidas de ajustamento das contas públicas. E tudo tem que ver com decisão dos parceiros da Grécia de libertar, ou não, a próxima prestação de financiamento, no valor de 31,5 mil milhões de euros. Uma decisão que terá que ser tomada a breve prazo, de preferência antes da cimeira europeia de 18 de outubro.
Os encontros mostraram, uma vez mais, quem conta, na Europa do euro: Merkel, Hollande e Monti. E também, em certa medida, embora em perda de velocidade, Juncker, enquanto chefe de fila dos ministros das Finanças da zona euro. Revelaram igualmente que Bruxelas deixou de ter peso, quando uma questão política fundamental está em jogo. Van Rompuy e Barroso parecem ter tido umas férias tranquilas. Van Rompuy está cada vez mais reduzido a um papel técnico: é o homem de confiança, que dá seguimento às decisões tomadas por quem manda. Por seu turno, Durão Barroso perdeu o espaço de iniciativa e de manobra que a função de presidente da Comissão lhe proporcionava. Faltou-lhe a coragem política necessária, quando a crise exigia uma voz independente e supranacional. Hoje pouco mais é do que um personagem formal, que ninguém julga necessário ouvir.
A marginalização de Bruxelas é um erro. Primeiro, porque enfraquecer as instituições e os dirigentes comunitários é debilitar a construção europeia. Depois, porque em períodos de crise, quando as disparidades entre os Estados-membros se tornam mais evidentes, as chamadas de atenção devem provir das instâncias comuns, não das capitais dos países mais fortes. É mais fácil para um cidadão grego, ou português, aceitar uma crítica vinda de uma estrutura que é de todos do que uma observação feita por um político alemão, finlandês ou de um país vizinho. Sem esquecer que os comentários feitos por Merkel ou Schaeuble, o poderoso ministro das Finanças da Alemanha, e por outros líderes nacionais, têm mais que ver com a opinião pública dos seus próprios países do que com uma contribuição objetiva para uma solução que interesse à maioria dos europeus.
Voltando à Grécia, estou de acordo que é preciso esperar pelos resultados do exame que será feito em setembro, antes de se tomar qualquer posição quanto ao futuro do programa de reforma. É assim que se procede, é essa a regra, noutras partes do mundo. Todo o ruído antes de tempo, incluindo a proposta de um novo calendário feita por Samaras, é contraproducente. Creio, no entanto, que o juízo dos examinadores vai deixar a porta entreaberta, uma nesga que seja, para a continuação do financiamento do programa. Reconheço que há quem queira, hoje mais do que há uns meses, sobretudo na Europa do Norte, adotar uma postura inflexível, congelar a transferência prevista e colocar Atenas fora do euro. É importante contrariar essa visão, mas apenas se se puder demonstrar que o Governo grego está de facto empenhado em levar avante as reformas prometidas. Ao fim e ao cabo, a Grécia, como Portugal, precisa de acertar o passo com os outros estados da União e, simultaneamente, da estabilidade que o euro lhe traz. Se assim for, vale a pena continuar a investir.