A bagagem que levei, numa viagem recente ao Brasil, incluía uma mão cheia de medos e alguns preconceitos. Regressei à Europa, três semanas depois, mais aliviado. E otimista, em relação ao Brasil presente e futuro.
Quinze anos após a minha última visita, encontrei um país mais seguro. Um Rio de Janeiro onde é possível passear e andar em paz, desde que se tomem as precauções que uma grande cidade exige. O município e o estado têm investido bastante na segurança pública, quer através dos programas de “pacificação das favelas”, como lhes chamam, quer pela presença visível e robusta de agentes de autoridade, nos pontos mais sensíveis do Rio. Vi igualmente um interior mais tranquilo, com um trânsito ordenado e controlado – existem radares por todos os lados – e com uma boa rede de estradas. Haverá ainda muito que fazer, em matéria de ordem pública. Em certas cidades, nomeadamente no Estado de São Paulo, os gangues continuam a ter um peso significativo. A própria polícia precisa de ser melhor monitorizada, para que perca a tendência, que ainda existe, de resolver os problemas por meios extralegais e com violência excessiva. No conjunto, porém, a atenção dada às questões de segurança está a dar resultados.
Fiquei também impressionado com o dinamismo da economia brasileira, agora a sétima maior do mundo. O mercado interno oferece imensas hipóteses de crescimento. É, ao mesmo tempo, cada vez mais sofisticado, o que tem um efeito modernizador. A qualificação profissional dos jovens tem progredido a olhos vistos e, ao contrário da Europa, há emprego. Os salários dos quadros são elevados. O custo de vida é, no entanto, caro. Esta foi, aliás, uma das surpresas. É possível ter uma vida de qualidade no Brasil, e muita gente a tem, que a classe média está em crescimento, mas a qualidade tem um preço bem alto. Por outro lado, o real tem um valor excessivo. Isso, para além de excluir milhões de brasileiros de uma vida condigna, tem feito desaparecer dos sítios turísticos do interior do Brasil o visitante europeu. Fazer turismo no Brasil, fora do regime dos pacotes de massa, é proibitivo, para quem ganhe um salário médio europeu.
Em relação ao exterior, a principal ambição continua a ser a de afirmar o Brasil como um ator global, com direito a um lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU. A aposta passa pela expansão da influência brasileira nas Américas e pelo reforço da sua posição no seio dos BRICS. Faz-se, igualmente, privilegiando as relações com África. Em finais de Maio, por exemplo, quando África comemorava cinquenta anos de luta pela unidade, Dilma Rousseff esteve presente e anunciou, com um grande sentido de oportunidade, um perdão ou reescalonamento da dívida de doze países africanos, num valor total de 900 milhões de dólares.
Curiosamente, existem dúvidas, mesmo por parte do cidadão mais informado, sobre as orientações da política externa do país. Também notei que a CPLP, a famosa comunidade que tem o português como elo, é uma sigla que poucos conhecem. Quando perguntei a gente do setor privado que pensavam da CPLP, apenas um ou outro respondeu que já ouvira falar da “coisa”, mas eram incapazes de lhe dar um significado.
Já o interesse por Portugal é bem maior. A visita a Lisboa da Presidente confirmou-o. O nosso país tem que saber explorar esse interesse. A recente conferência em São Paulo, organizada pelas Necessidades, para promover mais relações económicas entre Portugal e o Brasil, foi uma boa iniciativa. Deve ser seguida por outras, de modo coerente e estratégico.