E agora? Passado o fim-de-semana, em que todos os olhares estiveram focados na Península Coreana e depois de se concluir que o equilíbrio de forças nesse canto do mundo não permite ir além de manifestações simbólicas e de declarações tonitruantes, resta-nos uma interrogação mais imediata e bem mais próxima dos interesses que são os nossos, enquanto europeus. Quais são os objetivos que a administração americana pretende atingir no que respeita à Síria? E qual é afinal o plano?
Estas serão as questões que muito provavelmente estarão em cima da mesa em Washington, em tandem com o imbróglio coreano. Não na mesa de Donald Trump, mas certamente na do Conselho Nacional de Segurança (CNS), que é a estrutura da Casa Branca a quem compete desempenhar um papel essencial, quando se trata de responder a este tipo de problemas. E que se estará a conseguir impor, face às tendências erráticas que vêm de cima.
O Presidente não tem sobre estas matérias uma visão clara ou a experiência necessária. Mas o general Herbert R. McMaster, que dirige o CNS, é um profissional que conhece bem as complexidades do Médio Oriente. Serviu, nomeadamente, como comandante operacional numa das regiões fronteiriças do Iraque com a Síria. Além disso, sabe de estratégia. Nos EUA não se chega ao generalato sem se ter uma compreensão estratégica do xadrez internacional e das relações de força entre os Estados. E não se trata apenas de estratégia militar. Depois dos desafios iniciais no Afeganistão e no Iraque, a formação das altas patentes americanas passou, nos primeiros anos deste milénio, a exigir um entendimento aprofundado e multifacetado da estratégia, incluindo das suas dimensões políticas e diplomáticas.
É entretanto verdade, e a minha experiência profissional dos últimos sete anos põe-me de pé atrás em relação a isso, que apesar dos investimentos feitos no sentido de uma perspetiva mais abrangente da gestão dos conflitos, a maioria dos generais, nomeadamente os americanos, tende para continuar a privilegiar a resposta militar. Sobretudo quando confrontados com crises que duram há anos e parecem insolúveis do ponto de vista político.
É esse o risco que vejo na atual administração americana. Tem vários generais em posições determinantes. Não apenas no CNS, mas também à frente do Departamento da Defesa e da Segurança Interna. E também nos corredores do poder, em particular na Casa Branca. O Presidente gosta de se rodear e de ser visto com homens de uniforme, cheios de galões e estrelas douradas. Mostra, aliás, um fascínio simplório perante os chefes militares. É o deslumbramento que surge frequentemente quando a ignorância, o improviso e oportunismo político encontram pela frente o profissionalismo e o sucesso baseado na experiência, no saber e no mérito. Em matérias de conhecimento, de formação multifacetada e de promoção com base nas qualidades de comando e de análise, os militares americanos são um exemplo.
Mais concretamente, trata-se do risco de dar a preferência à bomba – e no caso do Presidente Trump, às declarações e às decisões bombásticas – em vez de adotarem um pacote de medidas que combine as demonstrações de força com iniciativas diplomáticas e medidas políticas. Como os generais tiveram a ocasião de aprender durante as aulas de estratégia e os exercícios práticos de comando em que participaram – colaborei em vários, como formador civil e para partilhar a minha experiência de décadas na ONU – a principal razão de ser de uma iniciativa militar é a de levar as partes à mesa das negociações. A ação militar é uma componente possível na resolução de crises, mas não deve ser tratada como um fim, remédio santo ou a última das soluções. É que ao morteiro não se soluciona grande coisa, se não houver um plano mais vasto de resolução do conflito e de tratamento da complexa situação que resultará dos acordos políticos.