Os casos mais recentes mostram que o terrorismo não consegue pôr em causa a normalidade do nosso quotidiano, enquanto cidadãos da UE. São crimes horrendos, é verdade. No entanto, não afetam de modo duradoiro a paz e a tranquilidade públicas, para além do abalo momentâneo que provocam. Não dividem as diversas comunidades que constituem o complexo tecido social europeu. Não desestabilizam as nossas sociedades. Não nos fazem andar com o rabo entre as pernas. E também não passamos o tempo à procura de bodes expiatórios, a apontar o dedo ou a olhar de lado para as minorias que connosco partilham o seu dia-a-dia. Vemos cada incidente como um ato desesperado, perpetrado por delinquentes recidivistas, criminosos de meia-tigela que se meteram em becos sem saída e acabaram por reagir como assassinos tresloucados e suicidas.
Ao escrever isto não estou a ignorar a dor dos que foram diretamente atingidos pelas atrocidades cometidas. Mas é bom que os terroristas e os seus mandantes saibam que nós choramos as vítimas e depois continuamos em frente, a viver as rotinas próprias de sociedades que são maduras e democráticas. É essencial fazer ver aos que patrocinam as ações terroristas que estão a falhar. Que eles e os seus agentes, as suas ideias, os seus métodos, é tudo um fracasso, sem futuro ou justificação.
No espaço europeu, o terrorismo não tem qualquer tipo de impacto estratégico.
E para evitar que o possa vir a ter é fundamental que a comunicação social aborde a questão com peso e medida. As televisões e os jornais não podem ser instrumentos de amplificação de crimes desta natureza. Não deveriam dar a impressão, durante as 48 horas seguintes, que um ato de desespero e de loucura bárbara, que durou 82 segundos, como o que aconteceu em Londres, teve uma dimensão catastrófica. Por muito brutal que seja, há que relativizar o que é de facto relativo, localizado e absolutamente marginal. A resposta a este tipo de crimes também passa pela maneira como são contados e contextualizados. Induzir a opinião pública em erros de apreciação pode acarretar custos democráticos enormes.
Também não podemos cair no excesso securitário.
Claro que há que tomar medidas, reforçar os serviços de segurança, mostrar presença visível e dissuasora nos espaços públicos mais sensíveis. Sem exageros, todavia. Esta categoria de riscos faz parte do mundo aberto a que queremos pertencer. Haverá sempre um ou outro alucinado pronto para a loucura e a morte. Ontem foi em nome das Brigadas Vermelhas, do republicanismo incondicional na Irlanda do Norte, ou ainda noutros lugares da Europa, por variadas causas que a História entretanto arrumou na prateleira das absurdidades. Hoje, é pela bandeira negra de um fanatismo pretensamente religioso por eles inventado. Amanhã, poderá ser por uma outra parvoíce mais ou menos idealizada. A resposta passa, sem dúvida, por meios de polícia mais adaptados à ameaça. Mas dentro de certos limites. Limites relacionados com as liberdades e os direitos fundamentais dos cidadãos, com a proporcionalidade e também com o facto de que há mais problemas para resolver para além da segurança.
Os governos sentem-se na sua praia quando tratam de questões de segurança. Por isso, preferem que se fale acima de tudo nisso. Nós, os cidadãos, entendemos o valor da segurança, mas também damos uma importância muito especial às questões do emprego, da proteção social, da inclusão, da educação e da participação democrática. O nosso quotidiano é feito do emaranhado desses desafios, que muitas vezes se transformam, eles mais do que tudo o resto, em ameaças concretas à nossa sobrevivência e à nossa estabilidade política.