Michael Phelps tem ainda outro 'record' para bater: igualar Portugal em medalhas
01.08.2012 às 2h27
Com 19 já ao peito, Michael Phelps pode ganhar ainda mais três em Londres e chegar às 22 medalhas - exatamente o mesmo número que Portugal obteve em 100 anos de participações olímpicas. VEJA AS FOTOS















Há momentos históricos que, quem os testemunha ao vivo, devia ficar proibido de os esquecer. Por isso, é melhor escrever já para que quando, daqui a muitos anos, me perguntarem onde estava no dia 31 de Julho de 2012, eu poder responder: "Eu estava lá!". Sim, "lá" no centro aquático do Parque Olímpico de Londres. "Lá" no meio da excitação incrível e do aplauso genuíno de todos os espectadores, independentemente das nações que defendiam. "Lá", na noite em que Michael Phelps ganhou, aos 27 anos, a sua 19.ª medalha olímpica, ultrapassando, quase meio século depois, as 18 da ginasta soviética Larissa Latynina. "Lá", na piscina em que o nadador de Baltimore estabeleceu um recorde que, no mínimo, irá durar muitas décadas (até porque o vai, seguramente, ampliar nos próximos dias).
Depois das oito medalhas em Atenas 2004 (seis de ouro e duas de bronze) e das oito de ouro em Pequim 2008, Michael Phelps chegou a Londres em descompressão (para os seus cânones, claro). Na primeira final, os 400 estilos, nem às medalhas chegou. Na estafeta de 4x100, apesar do seu esforço, ficou-se pela prata (a primeira da sua carreira olímpica!), quando os EUA foram batidos pela França.
O encontro com o inevitável recorde estava marcado, desde há muito, para terça-feira, 31 de julho, dia em que disputava duas finais. Uma delas, a da sua prova favorita: os 200 metros mariposa, a mesma com que se tinha estreado em Jogos Olímpicos, em Sydney 2000, com apenas 15 anos (5.º lugar). Embora tenha dominado toda a corrida, acabou por perder, mesmo no fim, o ouro para o sul-africano Chad Le Clos. Embora tenha, nesse momento, igualado as 18 medalhas de Latynina, a verdade é que também perdeu - por 5 centésimos de segundo! - um outro recorde: o de se tornar o primeiro nadador a ganhar a mesma prova individual em três Jogos Olímpicos sucessivos.
E percebeu-se que não gostou de perder, até porque confiava que tinha a prova ganha. Quando olhou para o quadro eletrónico e viu que a 18.ª afinal era de prata, arrancou uma das tocas e atirou-a para longe, com raiva. Mas depressa se recompôs e foi abraçar Chad le Clos. Após a cerimónia de entrega de medalhas, voltou a abraçar o sul-africano e ajudou a conduzi-lo pelos passos protocolares do momento: indicava-lhe onde ele devia parar para ser fotografado, por onde devia seguir, para onde devia olhar.
O recorde foi batido em família, com a equipa norte-americana dos 4x200 metros livres: Ryan Lochte, Conor Dwyer e Ricky Berens. Phelps ficou com o último percurso. "Tinha pedido aos rapazes para me deixarem um bom avanço", brincou ele depois. E apesar do esforço final do temível Yannick Agnel, a França ficou a mais de 3 segundos da seleção dos EUA. E da 19.º medalha de Michael Phelps, celebrada com uma das ovações mais intensas e genuínas jamais ouvidas numa piscina olímpica, reforçada ainda por outro facto significativo: todos os nadadores da prova foram cumprimentar o "maior atleta olímpico da História".
Nos próximos dias, Michael Phelps tem todas as possibilidades de alargar o seu saco de medalhas, pois ainda lhe falta disputar os 200 estilos, os 100 mariposa e a estafeta de 4x100 estilos. Se ganhar medalhas em todas, atinge as 22 - exatamente as mesmas que Portugal ganhou em todas as suas participações olímpicas, em 100 anos de história.
Em termos cronológicos face a nós, Phelps vai assim mais ou menos no lugar de Francis Obikwelu, em Atenas 2004 (a nossa 19.º medalha como nação). Se ele ganhar nos 200 estilos, na quinta-feira, 2, "apanha" Rui Silva nos mesmos Jogos. Se for medalhado nos 100 metros mariposa, na sexta, 3, "cola-se" a Vanessa Fernandes, em Pequim 2008. E, finalmente, se a estafeta dos EUA cumprir a sua obrigação nos 4x100 estilos de sábado, 4, ele "iguala" Nelson Évora nos últimos Jogos.
Claro que se, entretanto, Portugal ganhar uma medalha, Michael Phelps já não nos apanha. E aí, não nos esqueçamos, ficamos à frente do "maior olímpico de todos os tempos".
Será que isto pode servir de motivação para alguma coisa?...