Quando a esperança se perde as pessoas desesperam e normalmente a violência torna-se fatal. É o que, infelizmente, está a acontecer com a crise do capitalismo de casino, que começou há cerca de quatro anos nos Estados Unidos e que há dois contaminou a União Europeia.
Entretanto, passou-se muita coisa no universo árabe, onde a primavera islâmica, assim chamada quando surgiu na Tunísia, não gerou a democracia, que era a esperança, mas conflitos religiosos-militares, no Egito, na Líbia e noutros Estados árabes, bem como outro tipo de conflitos pelo poder, como acontece na Síria, há quase um ano com uma mortandade diária.
O mesmo – quanto a esperança perdida – está a passar-se no continente africano e no Médio Oriente, sem que o Ocidente atue e com a ONU (paralisada pelo veto russo, relativamente à Síria) sem saber o que fazer, bem como a NATO, igualmente paralisada, dada a impotência do Ocidente.
A China está igualmente a ter problemas graves, visto que o capitalismo selvagem nunca se poderia dar bem com o comunismo puro e duro. São incompatíveis. E agora começa a ter problemas com o Japão, o que não augura nada de bom, para o continente asiático.
Os chamados países emergentes – os BRIC (Brasil, Rússia, Índia, China) – e mais alguns que se lhes juntam, também começam a sentir, em menor escala é certo, os ventos da crise do Ocidente (Estados Unidos e União Europeia). É uma crise do capitalismo selvagem, diferente da última grande crise, de 1929, que originou a II Guerra Mundial.
Esta é uma crise muito mais complexa. Porque começando por ser financeira – baseada nos mercados usurários e numa economia virtual – passou a económica, dada a recessão a que muitos Estados estão sujeitos; política, na medida em que está a pôr em causa as democracias pluralistas do passado e o respeito pelos Direitos Humanos; social, dado que as conquistas sociais estão a ser implacavelmente destruídas; ambiental, visto que em virtude dos egoísmos nacionais estamos a ignorar os estragos que os homens fazem sobre a natureza; e mesmo civilizacional, porque tudo se apresenta para haver um recuo imenso.
Porquê? Porque a ideologia neoliberal comanda e considera os mercados – e o dinheiro, portanto – muito acima das pessoas, que não contam desde que não sejam ricos, diria mesmo, muito ricos. Os mercados comandam os Estados e os políticos ou são negocistas e estão feitos com os mercados, ou então não contam. Daí o descrédito de que os políticos – e a política – são objeto, incapazes de evitar o abismo em que podemos cair.
A União Europeia tem poucos políticos com coragem para tomar tais medidas. Mas a França tem um Presidente de esquerda e um governo de gente competente. A Alemanha está a mudar e a perceber que tem de ir mais longe na defesa do euro. Os sociais-democratas estão nessa linha e os Verdes também.
Mas a esperança que nos deve animar, vem-nos da América e das eleições presidenciais de novembro próximo. Barack Obama vai ganhar. O mórmon republicano não tem qualquer base intelectual ou moral que se possa comparar a Obama. Este é um grande estadista, um humanista convicto, que conhece bem a política externa e sabe o que deve fazer a bem da América e do Mundo. No atual mandato traçou em grandes discursos o que havia a fazer. Mas cercado como esteve pelos republicanos, racistas e incompetentes, não pôde cumprir algumas das suas promessas. É verdade. Mas agora é diferente. Vai fazer o que é necessário e mudar a América e a União Europeia, que tem ajudado. Como disse Clinton, num discurso brilhante, Barack Obama é o homem que nos dá esperança e pode mudar a América, a União Europeia e o Mundo.
Tenhamos esperança.