Para qualquer lado que nos voltemos, o Mundo vai mal. A ONU, que nos orientou na segunda metade do século XX, tem hoje uma participação menor. Não intervém em defesa dos Direitos Humanos – o caso da Síria é exemplar – e quase ninguém fala de ecologia. Poucos Estados se dão ao trabalho de pensar no Universo, apesar dos desastres que ocorrem serem cada vez mais graves e preocupantes. As grandes potências só se ocupam dos seus interesses imediatos e, cada vez, querem menos saber do aquecimento da Terra ou das preocupantes mudanças do clima e dos desastres ditos naturais que ocorrem por toda a parte. Recentemente tocou mais uma vez à China.
A ONU, ao que parece, desinteressou-se da ecologia. Os poucos grupos ecológicos que ainda existem, têm pouco apoio dos jornais internacionais, das televisões e das rádios. Parece ser uma temática que deixou de interessar aos atuais dirigentes políticos e que nada lhes interessa o que terão de sofrer os seus filhos e netos. Só o dinheiro – e não as pessoas – preocupa os dirigentes políticos na Europa, na América (dos republicanos) e nos outros continentes, com as honrosas exceções de duas figuras únicas, extraordinárias: Barack Obama e o Papa Francisco, que deixou a inquisição e adotou, ao que parece, o franciscanismo. Olha para os pobres com respeito, quer ajudá-los, visita-os e fala com os católicos mas também com os agnósticos, com os ateus e com os membros de outras religiões.
Mas se o Mundo vai mal, é seguro que a União Europeia (UE) vai pior. Porquê? Porque as duas famílias políticas que construíram a CEE e depois a UE – os socialistas, trabalhistas ou social-democratas e, por outro lado, os democratas-cristãos, partidários ambos de Estados sociais e da solidariedade e igualdade entre os Estados da União – foram substituídos por partidos cuja ideologia política é neoliberalismo e, por isso, são ultraconservadores, só pensam no dinheiro – e na sua importância – e ignoram as pessoas. Daí o empobrecimento dos Estados europeus, o crescimento em muitos deles do desemprego, da emigração, do suicídio e da criminalidade.
Na UE estamos a viver o que se chama uma nova ordem internacional, criada pelo neoliberalismo e pela globalização sem valores – dada a incapacidade dos dirigentes atuais, que só pensam no dinheiro que ganham – que estão a destruir os Estados Sociais e a pôr em causa a Democracia, tal como a pensámos e vivemos antes da crise. Tudo começou pela importância que a chanceler Merkel tomou, luterana, vinda do totalitarismo comunista depois da queda do muro de Berlim e que a pouco e pouco se tornou a figura dominante da União.
O primeiro país atingido foi a Grécia, berço da nossa civilização, graças à importância que os bancos alemães aí tinham. Depois foi a Irlanda, mais por razões financeiras que economicistas e sociais; depois foi Portugal, com um Governo, que dura quase há dois anos e é, em absoluto, subserviente a uma troika, que ninguém sabe bem donde veio e é comandada pelos mercados usurários. A seguir a Espanha que, até agora recusou uma troika, mas cujo regime económico e político está a ficar paralisado. E a Itália, um dos Estados fundadores, apesar de ter um Presidente excecional, o notável Giorgio Napolitano, que está a atingir o fim da carreira (mas foi eleito para novo mandato); e alguns outros Estados, como a Holanda, e mesmo – quem tal diria? – a própria França.
A crise europeia não está só a ser uma nova forma de totalitarismo, mais ou menos fascista. Vai a caminho de destruir a Democracia Europeia e a pôr em causa a existência do Estado Social, da União e do euro. Se não muda de paradigma – como ensina Barack Obama -, vai autodestruir-se e liquidar o euro, como a nossa moeda única (e ainda forte). A crise não é só financeira. É também económica, política, social, ética e ambiental. E se não for atalhada rapidamente – como espero – dará origem a um novo conflito internacional. Haja bom senso e evite-se uma tragédia.