Espalhados pelo tecido urbano da Foz do Douro, encontramos os nomes da Senhora da Luz, numa rua, numa travessa e num beco. Reminiscências, dizem os entendidos, de cultos antigos, como também o de S. Bartolomeu, de origem fenícia. O nome de Senhora da Luz foi dado, também, um farol que já não existe, mas de que subsistem alguns vestígios.
Esse farol terá tido origem, no século XVIII, no tempo da administração pombalina, numa pequena ermida que em remotas eras foi construída, em frente ao mar, no cimo de um outeiro, e dedicada à mãe de Jesus, mas sob a invocação de Senhora da Luz. Junto deste pequeno templo fazia-se, antigamente, uma animada festa a 8 de setembro por ser o dia do ano em que se comemora a Natividade de Nossa Senhora da Luz.
Segundo uma velha tradição, ligada aos ciclos agrícolas, é a partir de 8 de setembro que a azeitona começa a ganhar azeite e a crença popular, na sua ingenuidade, admite que a origem do nome Senhora da Luz provenha dessa coincidência, tendo em conta a importância que o azeite tinha, não apenas na alimentação das lamparinas votivas, mas também na própria iluminação, fosse ela caseira, pública ou em recintos de diversão, como os teatros, por exemplo.
Uma coisa é certa: o culto à Senhora da Luz anda espalhada um pouco por todo o Portugal, continental e insular. E foi na sequência dessa expansão que, em data que se não pode precisar, se construiu a antiquíssima capela da Senhora da Luz no cimo do tal outeiro em frente ao mar, na Foz do Douro. Sabe-se também que em 1680 o templo estava em ruínas tendo sido objeto de uma profunda remodelação.
A construção do farol foi autorizada por alvará do Marquês de Pombal de 1 de Fevereiro de 175. Ficou anexo à capela. Durante o Cerco do Porto (1832/1833) tanto a capela como o farol sofreram danos consideráveis. Em 1835 o estado de ruína da capela era tal que a mandaram demolir. Um jornal desse tempo, “A Vedeta da Liberdade”, noticiava no dia 25 de agosto desse ano que “as imagens da Senhora da Luz e de S. Bartolomeu, que estavam na capela da Senhora da Luz, haviam sido transferidas para a igreja paroquial da Foz do Douro “
Nos finais do século XIX, inicio do seguinte a atividade do farol da Senhora da Luz foi de enorme importância para o pequeno porto de Carreiros que funcionou junto ao molhe. Foi, pode dizer-se, o primeiro porto de mar da costa portuguesa. Era a alternativa à perigosa barra do rio Douro. De um relato sobre o funcionamento do porto de Carreiros consta o seguinte: “ … as sombras da noite tinham caído… mas a escuridão tinha pouca importância pois o mar estava calmo a Senhora da Luz brilhou para facilitar a aproximação (ao porto) e guiar a nossa rota…”
O farol da Senhora da Luz manteve-se em atividade até finais de 1926, começos de 1927.