Houve um tempo em que a cidade do Porto atravessou um longo período de profunda religiosidade. Procissões e vias-sacras a desfilarem nas ruas do velho burgo, era uma prática habitual, porque eram muito da devoção dos portuenses, não apenas das classes trabalhadoras, mas também dos lojistas e até mesmo da burguesia endinheirada. Havia, no Porto antigo, a rua do calcário (o novo) e o sítio do Calvário Velho, assim denominados por ostentarem arvoradas as cruzes de duas das mais famosas vias-sacras que se realizavam no Porto ainda nos finais do século XIX. A recitação do terço foi outra das práticas mais comuns dos portuenses. À noite, em certas ruas do burgo, rezava-se o terço de casa para casa. Esse piedoso costume deu origem à construção de uma das mais belas igrejas do Porto, a Igreja do Terço, e à instituição da confraria de Nossa Senhora do Terço e Caridade. Tudo começou com a prática da recitação do terço. Nas imediações da atual rua de Cimo de Vila, alguns devotos reuniam-se à noite para rezar o terço em comum, junto a um oratório em que se venerava a imagem da Virgem e que ficava, sensivelmente, onde está agora a igreja do Terço. Aos domingos e dias santificados, os devotos da recitação do terço cumpriam o seu ritual mas em procissão percorrendo várias artérias das imediações, ao mesmo tempo que faziam um peditório público. As recitações do terço e as procissões eram sempre acompanhadas pelo padre Geraldo Pereira, grande devoto da Virgem e do terço. Com as esmolas angariadas durante as procissões, resolveu este sacerdote substituir o pequeno oratório onde se venerava a imagem de Nossa Senhora e, no seu lugar, construir uma igreja. Assim nasceu, em 1756, a Igreja do Terço. E logo a seguir (1762) instituiu-se, na mesma igreja, a Irmandade de Nossa Senhora do Terço e Caridade. Ainda no ativo.
Rezar o terço de casa para casa
Lucília Monteiro
Mais uma "História Portuense" contada por Germano Silva, desta vez sobre o "piedoso costume" que deu origem à construção de uma das mais belas igrejas do Porto
Mais na Visão
Parceria TIN/Público
A Trust in News e o Público estabeleceram uma parceria para partilha de conteúdos informativos nos respetivos sites