Quem vem de viagem e por aqui passa fica impressionado com o brilho deste Portugal: há belas lojas por todo o lado, restaurantes com estrelas Michelin, hostels e hotéis de design, festivais nos roteiros internacionais, espaços públicos com arquitetura notável, autoestradas que podem levar direitinhos, de norte a sul, os 22 milhões de turistas que nos visitam. Só que, atrás desta imagem de prosperidade, há também um País a necessitar de manutenção e de intervenção.
Grave problema de segurança que urge resolver”: eram estas as palavras constantes do relatório do LNEC acerca dos problemas na estrutura da Ponte 25 de Abril, que a VISÃO puxou para capa na semana passada, dando conta dos riscos com o seu estado de degradação, o que aparentemente fez desbloquear as verbas para obras de reparação. Ainda a revista não estava nas bancas, e já as ondas de choque desta notícia se faziam sentir, com o Governo a dar explicações, o LNEC a acalmar os ânimos e os partidos da oposição a pedirem explicações e a trazerem o assunto para ser debatido no Parlamento. Foi anunciada a realização de obras no valor de 18 milhões de euros, e libertadas mais verbas superiores a 3 milhões para fiscalização e inspeção e quase um milhão para a construtora Parsons.
Depois disso, em escassos dias seguiu-se um bruaá de exigências e de denúncias acerca de problemas inadiáveis no património, infraestruturas e serviços públicos. São os carrilhões de Mafra que ameaçam cair e cujas obras de requalificação aguardam por luz verde das Finanças.
São os médicos do Centro a alertar para o colapso da maternidade Bissaya Barreto, por “incomportável escassez de meios”. São os pediatras do Hospital do Espírito Santo, em Évora, a alertarem para o risco de rotura da urgência pediátrica na unidade. São as linhas de comboio em péssimo estado, com um relatório da Infraestruturas de Portugal, divulgado na terça-feira pelo Público, que dava conta de que quase 60% estão em estado medíocre ou mau (em quatro anos, tivemos 20 descarrilamentos de comboios…). E há várias outras histórias de cativações orçamentais e de abandono do património que nos chegaram e que estamos, responsavelmente, a investigar. Fica a sensação de que temos um País preso por arames.
Levantam-se algumas vozes dizendo que este tipo de cobertura mediática faz empolgar as más notícias e lança para a praça pública um permanente estado de calamidade nacional prestes a acontecer. Podemos sempre enfiar a cabeça na areia fingindo que não sabemos de nada e esperar que a tragédia aconteça. Não nos parece a melhor solução. É que o nosso histórico só pode deixar amargos de boca. Não foi há muito tempo que fizemos parangonas internacionais com a tragédia da Ponte de Entre-os-Rios, que matou 59 pessoas em 2001. E ainda as labaredas estão vivas na memória de todos os que, no ano passado, viram um País a arder em dois incêndios que vitimaram mais de uma centena de pessoas. Não podemos admitir facilitismos ou adiamentos que coloquem em causa a segurança dos cidadãos.
É o jornalismo de responsabilidade, credibilidade e de serviço público que sempre nos moveu, e é este o compromisso com os leitores que renovamos a cada edição. Sempre sem alinhar com alarmismos ou lançar o pânico, mas denunciando o que merece ser denunciado, para o bem comum.
(Editorial da VISÃO 1306, de 15 de março de 2018)