Haverá fotos mais deliciosas de José Manuel Durão Barroso do que estas, a preto e branco, tiradas numa cabine photomaton, no auge dos seus 17 anos? Vi-as pela primeira vez em março de 2002, na capa da VISÃO, a propósito de um perfil do então recém-eleito primeiro-ministro assinado pela jornalista Rosa Ruela.
Nas páginas interiores, a mãe do político falava sobre a história das famílias Durão e Barroso e contava que fora precisamente com a idade desses retratos que o filho adolescente a tirara do sério. “Uma noite, desobedeceu à minha ordem de voltar para casa cedo. Levou um bofetão de que não me arrependo”, confidenciava Maria Elisabeth.
Esse jovem, com ar vagamente intrépido e revolucionário, iniciou-se na política pela porta da Federação dos Estudantes Marxistas-Leninistas (criada pelo MRPP), mas chegou à liderança do PSD, bem mais à direita. Foi deputado, sub-secretário de Estado dos Assuntos Internos, secretário de Estado e ministro dos Negócios Estrangeiros, primeiro-ministro e presidente da Comissão Europeia.
Aos 59 anos, só ainda não cumpriu o destino que o padrinho lhe vaticinou: ser Presidente da República. E não se pode dizer que tenha sido por falta de oportunidade. Ainda recentemente, em julho deste ano, regressou a Portugal para apresentar o livro do seu amigo Miguel Relvas e não faltou quem o quisesse (des)encaminhar. Disse que não.
É difícil saber quanto tempo mais durará esta ausência da política nacional, mas a julgar pelo facto de a sua eterna assessora, Leonor Ribeiro da Silva, ser agora chefe de gabinete de Rui Moreira, na Câmara do Porto, o afastamento é coisa para uma década.
Durão tem mais com que se entreter longe daqui. Além dos 22 cargos, na sua maioria honoríficos e pró bono, que o jornal online Observador lhe contabilizou há semanas, Francisco Pinto Balsemão escolheu-o, já este ano, para lhe suceder no cargo de novo senhor Bilderberg português – um posto importante no comité de diretores de um dos clubes mais influentes e secretos do mundo, onde entrou pela primeira vez há 21 anos, como convidado.
Vinte um anos antes disso, Zé Manel estava a entrar na cabine fotográfica para imortalizar o seu chapéu de abas e o ar revolucionário, numa imagem ao estilo: “Procura-se”. Meteu algumas moedas e saíram (provavelmente) as suas quatro melhores fotografias.