Porque será que no princípio é só romance e depois, passa a ser tudo, menos romance?
Conheceram-se na escola, na faculdade, no trabalho, no ginásio, na paragem do autocarro, nas redes virtuais, no elevador…não importa onde. Importa que ela queria viver um romance e namorar, e ele… também!
Olharam-se, primeiro disfarçadamente, depois, olhos nos olhos, e não conseguiram dizer mais nada. Apenas sorrir! Despediram-se e partiram com aquele sorriso meio doce, meio parvo. Todos viram, menos eles, que apenas conseguiram sentir e memorizar.
Sentiam os neurónios aos pulos, o coração aos pulos, o estomago aos pulos, a alma aos pulos, a vida aos pulos…
Imaginavam cenários idílicos, momentos românticos, beijos demorados e abraços mais e mais “colados”!
Viam romance, respiravam romance, transpiravam romance, comiam romance, com colherzinhas de café.
Voltaram a encontrar-se. No mesmo sítio, em sítios diferentes, às mesmas horas e a horas diferentes, com frio, vento e chuva, com um calor abrasador, em hora de ponta, a meio de um qualquer trabalho super importante, correndo o risco de serem despedidos… na praia, no campo, no início e no fim do ano, todos os dias, dia sim, dia não, talvez só aos fins de semana, ou uma vez por mês… mas, ainda assim, era sempre diferente, mas igualmente maravilhoso! Porque os dois queriam que fosse e tudo faziam para o ser. Porque os dois queriam vivê-lo assim.
Descobriam-se, conheciam-se, surpreendiam-se, divertiam-se! Faziam-se bem!
Era importante espantar o outro, fazê-lo rir, sentir-se maior, querido, desejado e amado.
A imaginação e criatividade não davam tréguas e a pergunta “será que ele/ela vai gostar” era a que mais ouviam dentro das suas agitadas mentes sempre disponíveis para ouvir, para aconselhar, para apoiar e ajudar!
Porque romance não é só oferecer flores! Romance é pensar no outro, é dar, é estar, é amar!
Qualquer pessoa entra numa loja e compra rosas! Mas, nem todos tem a capacidade de amar, de serem românticos, e têm a sabedoria e sensibilidade suficientes para perceber como isso é importante numa relação, e especialmente, a empatia suficiente para compreender porque é que isso é tão importante para o companheiro/a. E parece que, infelizmente, cada vez mais, menos pessoas possuem essas mesmas “coisas raras”, ou as querem ter!
No início, a felicidade dela/dele era o mais importante. Um só sorriso fazia a vida acontecer de forma mágica e senti-la correr nas veias. O Mundo era um lugar bonito, onde tudo parecia perfeito ou poderia sê-lo. O Sol era mais amarelo, a Lua mais brilhante, os problemas mais pequeninos, o romance o centro do mundo e a força motora que os fazia acreditar que tudo era possível, mesmo, o impossível.
Namoravam no cinema, no carro, nas ruas, nos restaurantes, à porta de casa dos pais, nos cantinhos mais escuros e escondidos, andavam sempre de mãos dadas e abraçadinhos, trocavam beijos apaixonados, quase morriam de saudades por não poderem encontrar-se um só dia, elogiavam-se quando se viam, abraçavam-se até faltar o ar e não conseguirem respirar, diziam que se amavam vez após vez…
Ouviam música romântica, baixinho, aconchegavam-se e até parecia moldarem-se um ao outro.
Mesmo quando a paixão parecia já ter acalmado para dar lugar a algo mais sereno e pleno e o Amor começava a construir-se.
Músicas que os tinham acompanhado desde sempre, músicas escolhidas a dois, a música dos dois. Aquela mesma que os dois dançaram, e em que ele quase a deixou cair de tanto rodopiarem, quando a convidou para jantar em sua casa e fez o primeiro jantar para ela. Aquele mesmo jantar para o qual passou dias consecutivos a ensaiar entradas, pratos principais, sobremesas, vinhos, decoração da mesa…e a imaginar o que sucederia depois, do depois, do depois… no final do qual ela lhe deu um beijo e lhe disse: “É tarde, vou para casa! O jantar estava divinal, mas tenho de ir…”
E em que ele respondeu: “É muito tarde, eu vou acompanhar-te!”
E no outro dia de manhã, lembrou-se de a acordar com uma mensagem relembrando algum pormenor especial da noite anterior, ao que ela respondeu com o desafio de um passeio ao final do dia a terminar com dois pasteis de nata numa qualquer esplanada com uma vista deslumbrante.
As brincadeiras de criança, as confidências, as partidas, os sorrisos malandros, os desafios à ultima da hora, os fins de semana algures longe, os jantares, almoços, lanches, caminhadas surpresa e fora de horas, os programas que os dois gostam, também aqueles que um dos dois não gosta muito, mas que se interessou por saber como correu… tudo isto acontecia quando os dois começaram a namorar e ainda, algum ou muito tempo depois.
A vontade estava lá. O Eu estava lá para o outro. O Eu do outro está lá para si. As mentes decidiam que viver o romance era importante e prioridade.
Se nada disso aconteceu, e queria que tivesse acontecido, então lance-se o desafio de pensar porque acreditou que iria ser diferente e acontecer depois?
Romance e Amor andam de mãos dadas.
E, assim, começa um romance e nasce uma relação romântica.
Quase todas começam assim!
Os inimigos do romance parecem adormecidos, ou simplesmente é-lhes dada outra importância: stress e ansiedade, rotinas, cansaço, ambição desmedida, trabalho, materialismo, mágoas, ressentimentos, culpas, não querer saber, não ter vontade, não acreditar mais…
Ao longo de todos estes anos a acompanhar casais, quando me dizem que não existe nem flirt, nem romance, uma das perguntas que lhes faço é: “Onde está o caixote do lixo da vossa relação?”
Ficam surpresos a olhar para mim!
Muitos destes casais subiram o Evereste em termos de romance e depois, quando chegaram ao topo, escorregaram por ali abaixo e não se encontraram mais.
Por vezes em apenas algumas semanas, senão ao final de uns quantos encontros.
Muitos deles pensam que como já têm uma relação e o outro já está conquistado e rotulado, já não é preciso fazer mais nada, e muito menos, subir a montanhas tão altas e perder tempo em coisas fúteis e superficiais próprias de namorados de quinze anos, preferindo calçar as “galochas”, vestir o pijama de flanela às riscas ou aos quadradinhos, e passar a namorar com o trabalho, com a televisão, com o computador ou com um qualquer outro ser romântico que caiu do céu em para-quedas!
Muitas das traições também acontecem porque há muito tempo os dois nem sequer conseguem olhar-se olhos nos olhos e porque o romance há muito que partiu!
Definitivamente, a maioria dos casais não sabe namorar depois de namorar. Para muitos, namorar é uma fase engraçada que tem o seu tempo e passa. É curioso porque ao mesmo tempo, muitos deles, também deixam de rir! Porque será?
Não, namorar não é uma fase! É uma forma de viver uma relação amorosa. Existem muitas formas de a viver, é verdade, e é você que escolhe como quer viver a sua relação. Com romance ou sem romance.
Ser romântico e viver a sua relação com romance é uma escolha da sua mente. O romance também não é sempre igual ao longo de uma relação, nem deve ser sempre vivido da mesma forma, isto é estar “colado” a crenças como “isto é romântico, isto não é romântico!” ou “Ele/ela sempre gostou disto e vou fazer!”
O romance, como nós e as relações, também está sujeito à mudança. A rotina do romance também é um inimigo da relação.
O romance precisa de ser renovado e revitalizado com criatividade e imaginação, tendo em consideração as necessidades emocionais do outro e o que o outro gosta, não o que você quer e gosta. Deixe de tentar adivinhar, pergunte!
Acredite, uma relação onde existe flirt e romance tende a ser uma relação viva e saudável, na qual os dois investem em mais um projeto comum: o de cuidar da relação sob o ponto de vista romântico.
Algumas pessoas podem mesmo sentir receio e vergonha de fazer determinadas “figurinhas” querendo fazer programas românticos, ter gestos ou atitudes mais ousadas, tentando flirtar ou surpreender o seu companheiro, temendo a rejeição e a critica, por parte do mesmo ou de terceiros!
Se esse é o seu receio, pense que independentemente da idade, do que faz e de quem é, o ser romântico e o querer viver a sua relação com romantismo, é um ato que revela inteligência e Amor. Expresse essa sua necessidade emocional ao seu companheiro/a, mesmo que ele não a sinta de forma tão intensa. Se não o fizer poderá vir a sentir uma intensa frustração que pode conduzir a rutura da relação.
Muitas pessoas perguntam: mas o que é que eu posso fazer?
Não tenho jeito nenhum para isso!
Pode aprender! É sempre tempo de aprender!
Se, nem mesmo no início da relação foi muito dado a romantismos, então, provavelmente, chegou a hora de aprender.
Pensa que já está muito velho para isso?
Fique a saber que não está. Especialmente se o seu casamento está a ir pela ribanceira abaixo, ou se está sozinho.
Sabe porque muitos segundos encontros não acontecem?
Também, porque muitas pessoas (homens e mulheres) querem viver um romance, mas não sabem ser românticas, e num primeiro encontro falam de assuntos que não lembram nem a um pinguim!
A propósito, sabia que os pinguins são muito românticos!
Quando se fala de romantismo muitas pessoas pensam de imediato em afastar a cadeira quando a namorada se senta, abrir a porta do carro, oferecer flores, bombons e perfumes, carregar os sacos dela, abrir a porta de casa, pagar a conta do jantar, escolher restaurantes caros, hotéis de luxo, levar o pequeno almoço à cama, fazer uma ceia à luz das velas…
Mas o romantismo vai muito além de tudo isso! Ou pode ir, se você quiser!
Ser romântico não é vergonha. Pelo contrário, na sociedade em que estamos inseridos, qualquer dia é mesmo um ato de coragem que faz toda a diferença na sua relação e na forma como os dois se sentem.
Mesmo as pessoas que dizem ser ridículo ser romântico depois de certa idade, por vezes são as que maior necessidade sentem de viver uma relação romântica.
Todos nós precisamos de romance na nossa vida!
Cada um de nós vive o romance e quer romance de forma diferente.
Um passeio sem destino, uma conversa sem hora marcada, desafiarem-se a visitarem lugares desconhecidos, escutarem-se com genuíno interesse, uma carícia no rosto, um beijo roubado, um apertar de mão, um olhar mais profundo, uma festa nos cabelos, um saltar para o colo, um abraço forte e “indescolável”, um despertar com o olhar do outro, uma musiquinha procurada especialmente para o outro, uma conchinha da praia, uma pulseirinha igual para os dois, um telefonema a meio da noite para dizer “Amo-te e sinto falta”, um postal com corações e uma frase saída do coração, um pacotinho com os bolinhos preferidos dela/dele, descobrir os seus gostos, fazer-lhe o seu prato preferido, oferecer-lhe aquele vestidinho vermelho que ela tanto gostava de ter ou aquela camisa que ele gostou, brincar as mesmas brincadeiras de criança, rir por rir, falar da infância e contar histórias memoráveis, fazer exercício físico a dois, dizer disparates por dizer, ter o coração aberto para dar e também para receber, desenvolver interesses e atividades a dois, cuidar quando o outro fica doente, valorizar e elogiar, escreverem-se cartas de amor e ternura, colocarem post-its no bolso ou pela casa fora, com palavras de amor e carinho, querer conhecer o outro e darem-se a conhecer, sonharem os dois acordados os sonhos um do outro e dos dois, terem intimidade em sítios diferentes, serem criativos emocional e sexualmente…tudo isto é romance, potencia o romance e o flirt, e faz parte de uma relação romântica e saudável.
Estas são apenas algumas sugestões para reacender o romance. Não existem menus ou check-lists para ser romântico.
Mas, se está numa relação e quer que ela seja romântica, então tem de fazer tudo para que o seja, para os dois!
Cada pessoa é única, vive e necessita de romance de forma diferente. Se para algumas isso não é muito importante e pensam que podem viver bem sem romance, para outras, especialmente para muitas mulheres, isso pode significar uma tragédia em três atos:
Primeiro ato: Negação! “Não estou a acreditar! Vou insistir e pagar para ver!”
Segundo ato: “Vai mudar!”
Terceiro ato: “Não muda e não aguento viver assim!”
Pode, ainda, acontecer, o super romance nos primeiros tempos e depois, um ou os dois, pensarem que isso não serve para nada, e decidirem colocar o romance no caixote do lixo. Outros, admiram-se, porque foi o próprio romance já de tão velho e cansado de maus tratos que decidiu partir, subir para o caixote e ficar a morar por lá!
Não mate o romance! Ao fazê-lo está a tirar o Sol à sua relação e a condená-la a viver na escuridão.
Conquistar quem amamos passa também por sermos românticos, no sentido de o agradarmos, de o surpreendermos, de o fazer sentir ainda mais feliz.
Quando se invertem as prioridades e o romance passa a ocupar o ultimo lugar, a satisfação e a gratificação na relação descem aos trambolhões atrás dele, e os três tendem a hibernar nesse mesmo “caixote” que todas as relações têm e que ninguém quer abrir com receio do que possa acontecer.
Pior do que abrir o tal “caixote” é viver a pensar no que se encontra dentro dele e torturar-se em razão do que não acontece e gostava que acontecesse.
Enquanto é tempo, é sempre tempo de reinventar a sua relação, dar asas ao flirt e ao romance, potenciar a sua imaginação e criatividade no que respeita ao Amor.
Troféus, prémios, cargos, objetivos, resultados, bens materiais… tudo isso se conquista e permanece conquistado.
Pessoas e relações, Não!
Pessoas e relações, quando amamos verdadeiramente as primeiras e queremos mesmo que as segundas continuem vivas, precisamos de romance! De forma mais ou menos desajeitada ou ridícula, não é isso que importa. O mais importante é ter a consciência de que precisa conquistar quem ama todos os dias. Sem desculpas!
Tudo o resto, é irrelevante! A sua relação sem vitamina R (Romance) não funciona e você não “funciona”, ou “funciona” menos bem, porque se sente mal-amado!
Ser romântico talvez não esteja na moda, talvez seja demasiado “fora da caixa”, talvez seja mesmo coisa do passado, mas quer se queira quer não, uma relação sem romance é o mesmo que uma praia sem Sol. Quantas pessoas ficam por lá? Muitas, talvez muitas mais do que imagina, porque não sabem que mesmo ao lado, existe uma praia com um Sol maravilhoso.
Não mate o Sol da sua relação!
Levante-se dessa “toalha”, saia dessa praia, e escolha a praia… ao lado!
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