Está a iniciar-se o terceiro período escolar. Para muitos alunos será o período da decisão, das decisões.
Considerando que uma parte dos alunos terá o seu trajecto definido porque certamente “chumbarão” ou porque terão boas perspectivas de resultados positivos, com excelência ou com suficiência, para quase todos os outros o terceiro período é o da recuperação, dito de outra maneira, é o das explicações.
De facto, existe um grupo muito significativo de alunos dos quais se deseja e espera que recuperem o rendimento escolar de forma a salvar o ano pelo que, para além de algum esforço acrescido, aumentará exponencialmente o recurso à velha “explicação” ainda que com designações actualizadas. Este recurso constitui, aliás, um importante nicho de mercado no mundo da educação.
Parece-me ajustado recordar que a globalidade dos estudos sobre desempenho escolar e variáveis associadas evidencia algo bem conhecido e reconhecido, a maioria dos alunos com insucesso ou em risco de insucesso pertence a agregados familiares com menores rendimentos e mais baixo nível de qualificação escolar.
Parece também claro que a ajuda externa ao estudo como ferramenta promotora do sucesso não está ao alcance da generalidade das famílias por razões económicas. Assim sendo, é fundamental que as escolas possuam os dispositivos de apoio suficientes e qualificados para que se possa garantir, tanto quanto possível, a equidade de oportunidades e a protecção dos direitos de todas as crianças, adolescentes e jovens. Importa não esquecer que apesar dos progressos, felizmente conseguidos, os níveis de insucesso escolar ainda são demasiado elevados.
Durante as férias de Páscoa muitos alunos passam já algum tempo nos centros de explicações, é preciso ir adiantando para garantir a “recuperação”, a nota que permita “passar” ou dê acesso ao curso escolhido, pelo aluno ou pela família.
É também um período de promessas, “se passares, nós oferecemos-te…”, “se tiveres notas para entrar, terás…”. Chamam-se incentivos e providenciam, esperam os pais, uma ajuda extra à motivação para este terceiro período.
Para alguns alunos este terceiro período vai anteceder, espera-se que facilitando, uma mudança de ciclo, de escola ou a por muitos desejada passagem para o ensino superior. Esperemos que seja a grande maioria.
No fim do período uma parte dos alunos ainda vai realizar exames. Daqui decorre uma outra pressão para o recurso às explicações, os pais e professores esperam, naturalmente, que os filhos ou os alunos façam “boa figura”. Alguns pais, como também algumas escolas, mais do que esperar ou desejar, exigem, o que torna a vida mais difícil para muitos. Em algumas situações esta pressão ou expectativas demasiado elevadas podem mesmo ser um contributo para mais dificuldades pois nem todos os alunos gerem bem esse grau de exigência.
Lamentavelmente, para outros alunos o terceiro período vai deixá-los mais perto do insucesso, da desmotivação, do abandono revoltado ou resignado. Eles terão falhado mas não terão sido só eles, nós também.
Não esqueço ainda um grupo de alunos que, apesar de algumas boas práticas que se saúdam e registam, procura sobreviver a ambientes educativos e escolares que nem sempre são muito amigáveis e inclusivos. Refiro-me a alunos com necessidades especiais. A alguns destes alunos o terceiro período não lhes trará nada de novo, será mais do mesmo.
Na verdade, os próximos meses vão ser pesados, exigentes, apesar de haver quem entenda como fáceis os trabalhos dos alunos.
Boa sorte e bom trabalho, para alunos, professores e pais.
(Texto escrito conforme a antiga ortografia)