Este dia tem um significado especial entre adolescentes, porque é nesta fase da vida que se vivem os primeiros relacionamentos amorosos, que permitem experienciar emoções e afetos. Contudo, em muitos locais do mundo a adolescência não tem esta prerrogativa de aprendizagem e experimentação, tão importante no crescimento dos homens e das mulheres.
Este ano o FNUAP – Fundo das Nações Unidas para a População, lançou uma campanha no âmbito do Dia dos Namorados, apelando para o fim dos casamentos infantis. Estima-se que 26,7% das raparigas em países com baixo desenvolvimento ou em vias de desenvolvimento, em todos os continentes, são crianças noivas e, na África Central e na Africa Ocidental, 4 em cada 10 raparigas casam antes dos 18 anos.
Os casamentos precoces, forçados e combinados, são uma prática nefasta e estão proibidos pela Convenção dos Direitos das Crianças e pela Convenção para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra as Mulheres.
Esta realidade violenta, mesmo com pouca expressão, também existe no nosso país em algumas comunidades imigrantes e de etnia cigana (havendo algum compromisso na comunidade cigana para lhe por fim), prejudica gravemente a vida destas crianças, no plano físico quando são muito novas, porque o corpo não tem maturidade para engravidar e ter filhos, mas também porque as impede de crescer de forma saudável, de ir à escola e de perspetivar um futuro.
A esta realidade agressiva e violadora dos Direitos Humanos das meninas e meninos sujeitos a esta prática, também não podemos deixar de assinalar neste dia, outra realidade bem mais presente na nossa cultura – a violência no namoro.
Quando olhamos para a realidade da violência doméstica e de género entre adultos, o que vimos é uma média de idades, de vítimas e agressores, que ronda os 40 anos, o que significa que são pessoas que já nasceram em democracia e passaram pela escola pública, mas também uma legitimação ou desgraduação social deste tipo de crime. A verdade é que ninguém se torna agressor aos 40 anos. Há um percurso de vida que os leva até ali.
A UMAR realizou mais um estudo sobre este fenómeno a que se juntou um outro estudo da Associação Plano I sobre o mesmo tema em contexto universitário. Segundo estes estudos, mais de 55% dos e das jovens inquiridas que já tiveram uma relação de namoro, foi vítima de pelo menos uma das formas de violência que os estudos apontam – controlo, perseguição, violência sexual, violência nas redes sociais, violência psicológica e violência física.
No Estudo da UMAR, 29% das e dos inquiridos legitimam o controlo como, proibir conversas com amigos, vestir determinada roupa ou usar livremente o telemóvel e 26%, atingindo 33% nos rapazes, legitimam a perseguição como uma forma romântica de exprimir o amor através dos ciúmes.
A violência sexual, entendida na maioria dos casos como forçar a relação sexual, atinge os 25%, sendo 22% em rapazes. Quanto à legitimação da violência nas redes socias, 33% das raparigas e 44% dos rapazes consideram normal aceder, sem autorização, às contas das redes sociais dos namorados e namoradas.
O Estudo da Associação Plano I demonstra que há uma percentagem significativa de estudantes que entendem a permanência de relações violentas como uma atitude masoquista da vítima, e 25% dos estudantes do sexo masculino atribuem às mulheres responsabilidade por situações de violência.
Estes estudos demostram, de forma inequívoca que, precisamos de mecanismos que proporcionem a rapazes e raparigas apoio e ajuda para compreender que o exercício de poder sobre a pessoa amada ou desejada tem limites que não podem ser ultrapassados. O amor não nos faz donos de ninguém e cada um por si tem a sua individualidade, os seus direitos onde se inclui o direito a dizer não.
A educação para a cidadania e a educação para a sexualidade são a chave deste difícil processo de mudança das representações sociais, através de uma pró-ação educativa de combate aos estereótipos de género nos primeiros anos escolares e uma educação sexual na pré-adolescência, que integre os sentimentos e o respeito pelos outros.
Quanto mais depressa se investir neste quadro no sistema de ensino, mais depressa a violência no namoro e a violência entre pessoas adultas em relações de intimidade, que tem uma forte marca de género, terá tendência a diminuir, caminhando para uma sociedade mais decente, democrática e livre. Como diz Emma Watson no seu discurso nas Nações Unidas, no lançamento da campanha He for She, “Se não agora, quando?”