Dói-me as costas. Devo ter dormido muito tempo para o mesmo lado e estou aqui apanhada de um flanco. Também acordei com a mão dormente e a orelha a latejar, deve ter estado dobrada durante a noite. Não consigo andar direita, mas tenho um rapaz de 6 anos, em estado comatoso de sono, que, se não o visto ainda com ele meio a dormir, não sai para a escola a tempo. Quando ele era bebé, debruçava-me na cama dele e cá vai disto. Agora, tenho de me sentar e, não raramente, ao puxar-lhe as meias com um movimento mais brusco oiço cenas a estalar em mim. Muito estalo eu. Cracs, crics e outros sons divertidos, que os miúdos reconhecem quando subo ou desço as escadas. Não consigo passar despercebida por causa do barulho das articulações.
E a disposição? Que bem que me sabe a minha casa. O meu sofá. Os meus gatos no meu sofá. Está um dia de sol? Adoro dias de sol, seca-nos a roupa mais depressa no estendal.
Quem é esta pessoa? É uma mulher de 41 anos. Até aos 40, era uma trintona, cheia de vigor. Aos 40, uau, nem parece que já é quarentona. Aos 41, desaba tudo. Porque já estamos a caminho dos 50. À meia-noite do dia em que se faz 41, os astros alinham-se num qualquer planeta esquisito e disparam cenas cósmicas na direção dos nossos joelhos e pulsos. Também das raízes, que agora têm de ser retocadas exatamente de 5 em 5 semanas, sob pena de se te dirigirem como “oh avó Clotilde”. E, sobretudo, disparam certeiros no estado de espírito. Nunca a expressão “sopas e descanso” fez tanto sentido. Embora eu lhe acrescentasse “séries”. E “mantas felpudas”.
Num próximo texto talvez fale das vantagens desta idade e mindset. Que as há, desenganem-se. Mas agorinha só consigo pensar no momento em que vou chegar a casa, agarrar na minha máquina de tirar borboto nova, que mais parece uma nave supersónica, e vou desatar a tratar das minhas malhas, feita louca.