Ao disponibilizarem alimentos e refeições saudáveis nos seus espaços, as escolas permitem um desempenho escolar ótimo, tanto ao nível intelectual como físico. Sabemos hoje que sem uma hidratação adequada, sem cálcio, sem magnésio, sem proteína de qualidade, sem glicose, sem iodo… ou seja, sem uma alimentação adequada, o crescimento ósseo e muscular, o desenvolvimento do cérebro ou mesmo a própria atenção e capacidade de resolver problemas, reduzem-se drasticamente e, em muitos casos, podem ser comprometidos para sempre. Mas as escolas são muito mais do que espaços saudáveis, promotores de saúde. As escolas são duplamente amigas das crianças porque podem condicionar o gosto e a nossa relação com os alimentos para sempre. Ao educar o paladar, uma criança fica preparada para aceitar a diferença e para provar a enorme diversidade de frutos, hortícolas, leguminosas, cereais e outros alimentos que a vão proteger ao longo da sua vida. Ao educar para a convivialidade, entra-se no domínio das práticas culturais e de relacionamento que também nos protegem. À volta da mesa, aprende-se a estar e a ouvir o outro, a sentir os ritmos alimentares do grupo, uma das práticas culturais que marcam a cultura mediterrânica, e que nos protegem, sabemos hoje, de comer mal.
Sim, mas podemos exigir tudo isto a uma escola sobrecarregada de funções e a pais tantas vezes demissionários destas mesmas funções educativas? Que mecanismos podem ajudar uma escola a tornar-se um espaço mais amigo de práticas alimentares saudáveis?
– Primeiro, os instrumentos legais, que auxiliam e promovem boas práticas. Sublinhe-se a existência de diretrizes da Direção-Geral da Educação (DGE) que regulamentam a oferta alimentar em meio escolar, condicionando a disponibilidade de géneros alimentícios menos saudáveis no espaço escolar (bufete e refeitório). Este documento está disponível para os encarregados de educação e devia ser de leitura obrigatória para todos os responsáveis escolares. Outra publicação recente e que entrou em vigor neste ano letivo, é o Referencial de Educação para a Saúde, É uma ferramenta pedagógica que poderá ser utilizada em todas as escolas do país e em diferentes níveis de ensino. Na área da alimentação, introduzem-se novos temas que permitem abordagens verdadeiramente novas em educação alimentar. Temas como o “Direito à Alimentação” ou a “Sustentabilidade ambiental e sua relação com o que comemos” são oportunidades para escolas e educadores fazerem uma verdadeira revolução nesta área de ensino.
– Depois, o que podem fazer os encarregados de educação? Como contribuir de forma positiva e participativa para uma escola mais amiga da alimentação das crianças? Para além de darem o exemplo (as crianças copiam a alimentação dos pais, desde as preferências alimentares até ao modo como nos sentamos à mesa e pegamos nos talheres) os pais podem ter um papel decisivo na comida que entra na escola e no incentivo ao consumo no interior da escola ao longo do dia. Existe aqui uma possibilidade real de intervir, pela orientação que podem dar para que as crianças almocem e lanchem nas escolas, onde a oferta alimentar é mais controlada nutricionalmente. E pela monitorização da oferta alimentar das escolas, passando pela seleção de lanches e merendas saudáveis que enviam para as refeições intercalares dos seus filhos. Recentemente, e para que os pais possam melhor monitorizar a oferta alimentar existente nas escolas, a Direção-Geral da Saúde sugeriu treze pontos de verificação, que poderão ajudar a identificar as escolas mais amigas da alimentação.
As escolas amigas da alimentação saudável são também amigas do ambiente, das culturas locais e de um melhor relacionamento entre as pessoas. Vale a pena tentar.