Será possível ter férias em paz? Esta é a pergunta que muitas pessoas se fazem sem encontrar explicação, nem solução, para as repetidas discussões que nas férias se agravam ainda mais.
Passar as férias a discutir, zangar-se por tudo e por nada, perguntar-se a si próprio o que está ali a fazer, e ter vontade de fazer a mala e fugir, são “coisas” que acontecem nas “férias” de milhões de pessoas pelo mundo fora.
E nas suas também?
Bem-vindo ao mundo das relações mais ou menos “turbulentas”!
Discutir com o seu companheiro de vez em quando é natural, normalmente origina-se na diferença e dificuldade de aceitação, e a maioria das vezes significa crescimento conjunto e da relação.
Discutir todos os dias e a toda a hora, por tudo e por nada, inclusive durante as férias, é um “caso de prognóstico muito reservado” que merece toda a atenção e cuidados especiais. De quem? Seus e do seu companheiro. Não só seus, ou só do seu companheiro. Dos dois!
E o que pode acontecer se não se aperceberem da sua gravidade, fingirem e negarem o que está a acontecer, inclusive durante as férias?
A consequência é que a vossa relação vai morrendo aos pouquinhos, um dia de cada vez, hora a hora, e os dois vão ficando cada vez mais “viciados” em discussões, a maioria delas por motivos que já nem se lembram no dia seguinte, mas que vos fazem sentir um aperto no coração cada vez que olham para trás e as recordam, ou que tentam olhar para a frente, e não conseguem ver qualquer “luz ao fundo do túnel”.
As razões das discussões durante as férias, normalmente, são as mesmas que fundamentam as discussões durante o resto do ano. Ao fazerem as malas, a maioria dos casais pensam que elas ficam em casa, alguns até as “trancam nos armários” ou colocam na “dispensa” e fecham a porta logo a seguir, mas elas arranjam sempre forma de sair, e de se “encaixarem” dentro das “malas” dos dois, “saltando” cá para fora quando os dois menos esperam.
E algumas parece que estão “programadas” para saltar de hora a hora!
É curioso! Porque será que não são as pessoas a decidir se querem ou não discutir sobre os mesmos temas, vez após vez, e parece que são as discussões que começam a comandar a sua vida?
Já pensou sobre isso?
É sempre você que escolhe como reagir!
Eu sei! Pode estar a pensar: Mas eu não tenho “sangue de barata!” Se ele/ela me diz “coisas” que não são verdade, ou me acusa … eu tenho que me defender!
E eu pergunto: Porquê defender-se de uma pessoa que diz que o ama e que ama?
Porque não dizer-lhe o que as suas palavras o fazem sentir?
Amar alguém é ter empatia e atenção para com as suas emoções e necessidades e não pressupõe sentir-se de imediato ameaçado.
Para muitos casais, passar um só dia sem discutir, pode significar que algo de errado se passa, e então há que encontrar um bom ou mau motivo para discutir, mesmo que estejam de férias.
A razão explicativa é esta: quando uma pessoa se “vicia” em viver a sua vida a discutir, não sabe vivê-la sem discutir, e não é sequer preciso um novo motivo para o fazer. Até porque, por vezes, depois de alguns anos, dá muito trabalho a encontrar e então, o melhor mesmo é recorrer aos antigos, àqueles que estão sempre ali à mão, cuja fonte são a mágoa e ressentimentos acumulados durante anos e anos de vida em conjunto, mas separados.
Para elas, a resolução de qualquer situação difícil passa pelo conflito e pela discussão. Foi esse o “modelo de gestão” das mais variadas situações que escolheram para si, porque foi aquele que viram os seus pais escolher, e/ou porque as experiências por que passaram os fizeram viver a vida “à defesa”! Mas existem mais, bem menos desgastantes e com melhores resultados.
As discussões e os conflitos durante as férias não surgem só nas férias, já veem de outro tempo, às vezes muito longínquo.
Nas férias muitos casais tentam deixá-las em casa, ou “enterrá-las” na areia da praia, mas elas arranjam sempre forma de sair, porque eles próprios já não sabem viver sem uma boa discussão. Fá-los sentir que ainda existe um bom motivo para permanecer, que o outro ainda lhes dá atenção e gosta deles.
Para algumas pessoas, especialmente as que receiam a rejeição e o abandono, por vezes essa é a única forma de sobreviver ao “caos” que antecipam, vez após vez, de uma vida sem conflitos, vivida na solidão, e/ou o confronto com os reais problemas da sua relação.
Discutir a toda a hora e a todo o instante, em férias ou fora delas, é uma forma de sobrevivência, de se sentir vivo e de continuar a alimentar uma relação, mesmo sem qualquer sentido, sem a qual não se consegue ver futuro, por uma ou mil razões.
A falta de entendimento quanto ao sitio onde vão passar férias, o orçamento que vão gastar, o que vão fazer em conjunto e em separado, como vão partilhar as tarefas diárias, quem vai tomar conta das crianças, com quem vão marcar encontros e quando e como vão estar em família e com a família, não são um “desencontro” ocasional, passageiro, pode significar um “desencontro” de muito tempo que urge ser entendido e avaliado.
A aprendizagem e capacidade em tomar decisões a dois é algo fundamental numa relação que se constrói desde o inicio da relação, e quando não “funciona” pode significar necessidade de controle de uma das partes ou mesmo das duas; a forma de encarar os gastos e gerir o orçamento deve ser conversada e planeada também desde o início da relação e quando não o é, pode fazer despoletar várias surpresas não muito agradáveis, assim como a partilha e a relação com a família.
Há que descobrir os “bloqueios”, as “zonas cinzentas”, os equívocos, as causas, as razões!
O grave problema de muitos casais é que não falam sobre tudo isto. Ou falam, mas falam em “registos” completamente “distorcidos”, como sendo o da culpabilização, generalização, critica, acusação, desvalorização, negação…
Um verdadeiro ciclo vicioso, como as discussões!
E esperam onze meses que as férias magicamente resolvam o que há para conversar e resolver. Que façam o milagre de os fazer encontrar depois de um prolongado, senão intemporal, desencontro.
E esperar que isso aconteça, não é esperar um milagre, é encarar a vida como um filme, fazer “pause”, parar a imagem, e suspender a sua vida.
Não o faça!
Proximidade, cumplicidade, intimidade, expressão de emoções, diálogo, capacidade de escuta, cedências, aceitação das diferenças, poder ser quem é de verdade, frágil e vulnerável, bondade, generosidade, compaixão, carinho, ternura, valorização, romance, empatia, confiança, amizade, atenção… e também sim, algumas zangas…são sinónimos de uma relação de Amor sólida e saudável.
Mas os dois têm de o querer, acreditar, investir e construir todos os dias esse Amor e essa relação, com vontade, sensibilidade, altruísmo e perseverança, não esperando milagres, nem de férias, nem de casas novas, nem de bebés salvadores de relações”, mas fazendo acontecer o que é verdadeiramente importante para cada um, e para os dois, como casal.
Não é “a vida” que dá sentido a uma relação! A relação é apenas um dos sentidos da sua vida!
Se os problemas parecem gigantes, a distância longínqua, a comunicação impossível, o desgaste psicológico intenso, e o “analgésico” férias teve efeitos secundários de vária ordem e não resultou, procure ajuda de um terapeuta de casal. Ele vai ajudá-los a conversar, a identificar as “minas” da vossa relação, a descobrirem as vossas necessidades e capacidades de gerir as mais variadas situações, encontrando o verdadeiro sentido de permanecerem “a dois”:
É possível carregar no botão “pause”, deixar de ver esse “filme” e passar a sentir a vida acontecer!
Por si, por ele/ela, pelos dois!
Excelentes férias!