Muitos têm vontade de o fazer, mas fica sempre a dúvida de como e para quê? Ou seja, o que vou fazer a seguir? Este artigo foca exactamente nestes dois pontos, e não tanto na situação mais frequente, isto é, quando se demite para transitar imediatamente para outra empresa.
Demito-me!
É assustador e simultaneamente libertador! É ter a oportunidade de poder voltar a fazer algo de novo e acima de tudo ter a capacidade e o discernimento para acreditar em si e nas suas capacidades. Um dos pontos mais difíceis é a confiança, a auto-estima, a motivação, a resiliência, a atitude positiva, o querer fazer… Tudo isto tem de vir ao de cima. Estas são algumas das características que o vão permitir ter sucesso após uma das decisões mais importante da sua vida profissional.
Para além desta crença em si mesmo, o ideal é ter um plano. Mesmo que o comece a desenhar pouco tempo antes da demissão. Se não for possível, e o seu impulso for mais forte e levá-lo a demitir-se, tire uns dias ou semanas para reflectir sobre o que sabe fazer, o que o mercado valoriza e o que quer fazer.
Depois de ter o plano estruturado é muito provável que o mesmo não aconteça da forma que pensou, é aqui que a sua capacidade de adaptação vai ser testada. Tal como as estratégias das empresas, estes planos existem para dar um foco, mas muitas vezes o caminho a percorrer é bem diferente do esperado.
Deixam-se líderes, não empresas
“Demito-me” acontece em situações de ruptura, com a empresa, com o chefe, raramente com a estratégia da empresa, apesar de ser essa, muitas vezes, a justificação apresentada pela maioria dos profissionais… Não nos podemos esquecer que são pessoas que definem a estratégia, por isso, é muito frequente a decisão de sair da empresa estar mais relacionada com o deixar o líder (directo ou indirecto), e não a organização em si. Mas esta discordância com o rumo da empresa também existe, sobretudo nas grandes multinacionais onde as “grandes” decisões são tomadas a milhares de quilómetros de distância.
Razões para se demitir
Existem outras razões para apresentar a sua demissão e partir para uma nova etapa:
– Querer romper com a situação actual – pode estar saturado da sua função, da empresa, de colegas, de tudo… E necessita de tempo para pensar. Como a sua profissão é completamente absorvente ou se demite ou nunca vai ter capacidade de efectivar uma mudança.
– Acreditar em si – acredita que pode ter um futuro diferente, e que pode passar inclusivamente por um projecto seu
– Ambição – sabe que pode atingir outro nível de desenvolvimento, mas não na empresa actual.
– Saúde – existem por vezes situações limite que são vividas por muitas pessoas e que se não mudarem podem atingir pontos de não retorno. As mais usuais são as situações de stress extremo e mesmo depressivas.
– Segurança – existem profissões em que se corre verdadeiramente risco de vida.
– Equilíbrio entre a vida profissional / pessoal: se a sua presente função está a destruir a sua vida pessoal e se tem de tomar uma decisão rapidamente de forma a tentar salvar o que mais valoriza.
– Precisar de um intervalo: precisa de sair da rotina, viajar, inspirar-se e depois então estará pronto para recomeçar. Demita-se e inicie esta viagem pelo mundo que será sobretudo uma viagem pelo seu interior. Hoje em dia, estas sabáticas são cada vez mais frequentes e mais bem aceites no mercado de trabalho.
Como se demitir
– Seja honesto e transparente. Quando falar com a sua hierarquia explique as verdadeiras razões, apresente um plano de saída e demonstre que está disponível para ajudar na transição.
– Tente sempre sair de forma positiva. Não sabe se um dia pode vir a trabalhar para a mesma empresa ou pessoas, ou até se podem vir a ser seus clientes. Será um erro terrível iniciar após a demissão uma série de pequenos “ajuste de contas” com colegas ou chefes. Também não deve começar a queixar-se a tudo e a todos de quão má é a empresa ou a pessoa A,B ou C.
– Após a demissão não passe de um colaborador dedicado a desleixado, ou seja, não diminua os seus níveis de empenho, entrega e assiduidade. Não se esqueça que as últimas semanas de trabalho são as que podem deixar a sua marca na empresa. Para além disso, no futuro poderão ir pedir referências suas e será importante perceberem que deu sempre o seu melhor, mesmo na etapa final.
– Espere por receber bónus e comissões, caso se despeça antes de tempo poderá perder somas consideráveis.
– Releia o seu contrato e adendas que tenha assinado, de forma a ter conhecimentos dos seus direitos e obrigações. Aqui o importante será perceber se tem cláusulas de non compete (não poderá trabalhar no mesmo sector ou concorrente), o que lhe pode limitar as opções.
– Despeça-se de todos os seus colegas pessoalmente e deixe a porta aberta para se manterem em contacto e demonstre disponibilidade para ajudar mesmo depois de já ter saído.
Nunca sair em ruptura
Sair em ruptura tem consequências a curto prazo, mas também a médio/longo prazo, sobretudo em países pequenos como Portugal onde parece que vivemos num T0 e tudo acaba por se saber. Até pode ter razão na posição que tomou mas a saída em conflito aberto não deve acontecer. Fica sempre a marca no mercado que se já o fez uma vez poderá fazê-lo novamente, sobretudo quando o conflito chega aos tribunais. Se é verdade que as pessoas devem fazer prevalecer os seus direitos, também é importante que percebam o impacto das suas acções. Logo, só em casos extremos se devem tomar medidas extremas, leia-se acções judiciais.
Concluindo, a decisão de se demitir deve ser ponderada e o ideal é já ter uma alternativa ou um plano estruturado, mas caso não seja possível, tem de ser capaz de acreditar em si e nas suas capacidades, pois esse momento libertador também trará consigo outros momentos de dúvida e incerteza.
* (O autor escreveu este texto com base na ortografia antiga)