É recorrente a comparação da atitude de um jogador de rugby com a de um jogador de futebol.
É recorrente, também e nessa comparação, enaltecer-se o primeiro em relação ao segundo… Por inúmeras razões, aliás, diga-se.
O jogador de rugby, regra geral, joga sob os princípios da lealdade desportiva. Não simula, não faz fita, joga o jogo pelo jogo.
Por sua vez, o jogador de futebol é chico esperto. Tenta enganar o árbitro, simula faltas, “queima tempo”, abandona a batalha à primeira adversidade.
O jogador de rugby é humilde, lutador e carrega nele um enorme espirito de sacrifício.
O jogador de futebol é narcisista, egoísta e gosta pouco da batalha física.
Mas se esta é a regra, há exceções. Quer do lado do futebol, quer do lado do rugby…
No rugby, por exemplo, o mundo dos 7´s é cada vez mais um triste espetáculo no que respeita à humildade e altruísmo que existe no rugby de XV.
Basta assistir a um jogo do tão divulgado circuito mundial de 7´s (só o nome do circuito é pomposo) para perceber que são raros os jogadores que, pelo menos a nível de caráter, poderão chegar, algum dia, aos calcanhares de McCaw, Cartner, John Smit, Juan Martin Hernandez, Pococ, etc…
Dá dó ver jovens jogadores, que nada ainda contribuíram de forma consistente para a modalidade, comportarem-se como supervedetas. Embora não sejam ninguém de relevo no mundo do rugby, por exemplo, todos fazem questão de festejar os ensaios que marcam com coreografias pessoais, muitas delas roçando o ridículo. Mesmo que esse ensaio nada traga de novo ao jogo…
Mas a culpa não é só dos jogadores em si… é de toda uma organização que explora um número muito limitado de jogadores para, com eles, construir um circo (o tal circuito mundial). Um circo que permite o encaixe de muito dinheiro, considerando as transmissões televisivas que, ao longo das 12 etapas do circuito, vão sendo disputadas entre os tais limitados jogadores que, a troco de muito pouco, se vão vendendo em imagens que os fazem julgar grandes, quando, na verdade, não o são.
Mas se o circuito mundial de 7´s é um deserto de valores e princípios do rugby, também no XV se tem vindo a assistir a uma crescente futebolização da modalidade.
Mas aqui, e diga-se em abono da verdade e felizmente, quer pela própria natureza do jogo (de combate, superação, sacrifício e espirito de união), quer pelas atitudes e exemplos dos jogadores que a nível mundial têm sobressaído, e também devido a um excelente trabalho feito pela maioria das Federações, o rugby continua a ser um bom exemplo dentro e fora de campo.
Fora de campo a regra é a boa conduta dos dirigentes ou seus colaboradores, sendo raro assistirmos a jogos de secretaria, pressões de dirigentes sobre árbitros, sms (bufos) entre dirigentes a colocar em causa a verdade desportiva…
Mas no que concerne ao futebol, as exceções também existem e pelas boas razões.
E Portugal, na sua equipa campeã europeia, tem a honra de poder fazer parte dessa exceção.
Um equipa liderada de forma genial pelo humilde e inteligente Fernando Santos, carregada de inúmeros jogadores de altíssima qualidade, onde cada um tem o seu papel e preponderância do andamento dessa mesma equipa.
Acima de tudo uma equipa carregada de boas pessoas, bem formadas e com bom fundo.
Não perceber (ou no mínimo tolerar) a atitude do Ronaldo relativamente ao jornalista da CMTV é não ter a mínima noção do que é lidar, diariamente, com violação da vida privada, abuso de imprensa, insultos pessoais e a familiares…
Não compreender a aparente (ou mesmo real) anarquia do banco de Portugal nos minutos finais do jogo e vir a terreiro criticar aquele que é o melhor de sempre, é não ter a noção que a equipa perfeita é aquela em que as diferentes personalidades encaixam em si, em vez de personagens moldadas aos livros escritos e criados por tantos demagogos que por aí andam.
Os mais velhos, como Ricardo Carvalho, tiveram a humildade de se adaptar a jogadores de banco, aportando sempre a experiência quando foi necessário.
A irreverência mas atitude humilde dos mais novos foi decisiva.
E a forma como, deixando a tradição incompreensível de passar ao lado do hino nacional, os nossos guerreiros exclamaram cada palavra de A Portuguesa foi arrepiante.
Portugal tem muito a agradecer a estes homens… Os quais nos permitirão intitular-nos campeões europeus nos próximos quatro anos!
Ronaldo e os seus companheiros formam uns verdadeiros Lobos!