Com o chegar dos últimos jogos da liga o mundo do futebol aparece rodeado de suspeita – como a das malas recheadas de dinheiro para as equipas que consigam “roubar pontos” ao Benfica e ao Sporting, de modo a permitir que um deles se distancie e se sagre assim campeão nacional.
E para baixo da tabela, não existirão malas para que se salvem ou desçam equipas? E na segunda liga, isso não se passará para que uma ou outra suba de divisão?
Esta prática de prémios por fora não é de agora e não creio que vá deixar de acontecer. A realidade é que este ano a situação ganhou mediatismo, pois trata-se de um ano em que de braço dado vão os dois rivais de Lisboa, que têm protagonizado uma luta bonita desde o início de época. Luta esta que vem dar mais qualidade e prestígio a um campeonato que, até à última jornada, se encontra indefinido o campeão, quem pode ir à Europa e quem desce de divisão.
Não existem provas nem dados que demonstrem que é uma prática generalizada, até porque os clubes em Portugal não têm dinheiro para estes “extras”: alguns clubes quase que não conseguem honrar os compromissos com os seus profissionais, quanto mais reunir fundos para pagar a profissionais de outros clubes para roubarem pontos aos adversários…
Tendo em conta que os clubes já não são apenas entidades desportivas, mas também empresas que movem grandes quantidades de dinheiro, não é de estranhar que nestas situações de pressão se sintam tentados a conseguir determinadas classificações por vias alheias às estritamente desportivas.
Não será melhor, para a transparência do futebol, liberalizar esta prática? Desde que não seja para que as equipas percam de propósito (ou seja, abdiquem do seu brio profissional), não são mais do que prémios de desempenho. Podemos deste modo diferenciar os prémios para ganhar ou perder, pois quem joga para ganhar não deve ser punido, mas sim quem joga para perder.
Mais grave de momento são as outras malas de investidores vindos de países que, com a sua entrada no nosso futebol, ‘rebentam’ com clubes com décadas de existência e hipotecam os escalões de formação desses clubes. Mais grave ainda: obrigam os clubes a terem nos seus plantéis jogadores que forçosamente têm que jogar, para receberem prémios e assim relegarem para segundo nível os jogadores portugueses, que com uma só perna são, na maioria dos casos, melhores do que eles.
Que abram os olhos os nossos governantes, e que apareça um secretário de Estado do Desporto com vontade de fazer coisas. Que a verdadeira mala seja a sua, com ideias inovadoras e capazes de protegerem os jogadores, que são os verdadeiros prejudicados e ficam com a sua imagem comprometida em todas estas situações.